Queria passar a fronteira. Isto do lado de cá era uma pasmaceira, não havia feira nem parque de diversões, apenas uma montanha russa dos tempos do russo que cá andou.
Travei conhecimento com uns gajos da alfândega, fui jantar com eles (almôndegas das boas) e depois fomos jogar poker. Quando descobriram que eu até sabia jogar mas era jogador de sábado, acharam-me judeu e deram-me um pontapé no cu. Desesperei por um passaporte com bom aspecto, perguntei aos camionistas, fiz o que pude.
Passados uns tempos, lá conheci um contacto interessante que me podia desenrascar. Fumava cigarrilha albanesa, vestia à do lado de lá, falava as línguas todas. Incluindo a de cá.
Combinámos a transacção, no cais 11, às oito, numa noite escura. O contacto nunca apareceu, pelo menos sem trazer a ramona aperaltada atrás. Daquela vez vieram mesmo à frente, que em vezes de estreia não gostam de ir à traição.
Estive preso seis meses, e quando saí voltei a casa. Mimlândia, população: um. Terra de ninguém. Mas não ia desistir.
Aprendi a jogar poker nos outros dia da semana. Fui à alfândega ganhar uns trocos e voltei para construir uma urbanização. Contratei o russo que fez a montanha. Quando apareceu o primeiro inquilino, disse-lhe logo que não pagava água nem gás. E ele zás, assinou e ficou.