A história que vou contar, passou-se na segunda metade do século xx, em plena Serra da Arrábida.
No cimo das colinas, entre vegetação e árvores centenárias, está uma casa de aspecto sombrio, que muito tem despertado a curiosidade dos que ali moram.
A sua construção é de 1951. O seu proprietário, um antigo industrial, que se dedicava à fabricação e comercialização da cerâmica, residia em Leiria e mandou então na altura, construir aquela casa. A sua intenção, era deixar Leiria e vir morar para Setúbal.
A construção da casa, durante três anos, esteve a cargo de um famoso arquitecto que era muito solicitado pela maioria dos empresários da época. Antero de Bastos, o empresário, á muito que comentava com a sua mulher, Maria José, a intenção de realizar um velho sonho: Ter uma casa de campo,com vista para a Serra da Arrábida,em Setúbal. Apesar do negócio não correr lá muito bem, o casal vivia sem dificuldades financeiras e Antero conseguiu realizar o seu projecto.
O facto de não terem filhos, ajudou e muito, a convencer a mulher a ir viver para Setúbal.
Com eles, veio também um velho amigo do casal, o cão Rolli.
Quando chegaram à nova casa, uma pessoa idosa observava a chegada do casal com alguma curiosidade. Como poderia alguém, morar num sitio tão bonito, mas escolher uma casa tão feia, que mais se parecia com a casa do terror ?
Antero de Bastos, estava fascinado e ao mesmo tempo realizado, por disfrutar de toda aquela magnifica paisagem do verde da Serra e o azulão da cor do mar.
Contente foi até ao seu quarto, abriu uma das janelas e deslumbrou-se mais uma vez, com o cenário panorâmico que lhe mostrava agora a linda península de Tróia. Reparou que por baixo da sua casa, a uns escassos metros, podia observar o enorme convento de S. Francisco Xavier onde em outros tempos, ali tinham vivido algumas figuras da nossa cidade.
O convento tinha nessa altura cerca de 540 anos, as palmeiras plantadas no pátio, davam-lhe um ar totalmente africano.
Mas o homem que tinha realizado o seu sonho, estava longe de saber o que lhe reserva o seu futuro. Antero de Bastos, veio a falecer mais tarde, pouco tempo depois, vítima de um cancro nos intestinos. Maria José tinha acabado de perder o amor da sua vida e as razões para ficar ali sózinha naquela casa, não existiam mais. Agora, nada a prendia àquele local.
Rolli amaldiçoado pelo destino, não regressou a Leiria com a sua dona. Após a morte do seu dono, desapareceu por entre o mato e não mais foi visto, nem sequer apareceu. Maria José chegada a Leiria, pôs a casa á venda, mas estranhamente nunca apareceram quaisquer interessados em comprar a casa. Correram rumores, que nunca ninguém ali conseguiu morar. Uma família que ali residiu, contou que não conseguiam dormir á noite, porque ouviam vozes estranhas acompanhadas de choros de crianças,que mais faziam lembrar coisas do outro mundo.
Os últimos corajosos que lá moraram, foram um casal de africanos, que por falta de condições financeiras, ali estiveram gratuitamente, mas rápidamente acabaram por a abandonar, ivocando as mesmas razões de outras pessoas que já ali tiveram estado.
A casa já esteve pintada de várias cores, hoje apresenta-se de amarelo vivo, talvez para encorajar alguém ali a morar e quem sabe, finalmente acabar com o mistério.•
(dedicado a Maria José)
Gabriel Reis