Estátuas de Coral
Não queria partir sem te abraçar pela última vez.
E disseste-me como escutar o ruído no âmago do silêncio,
e ver a luz no meio da escuridão,
mas não disseste que um dia partirias e permaneceste absorto na tua morte.
Falei-te, mas era como se não ouvisses,
mas de repente enviaste uma lança de Luz e fogo que trespassou o meu ser,
e ainda sinto o sangue que brotou então de minhas entranhas.
E zanguei-me contigo por não seres aquilo que eu procurava,
e por eu não ser aquilo que desejavas encontrar.
Mas a vida era mesmo assim e o fio de prata de Ariadne tinha-nos unido para todo o sempre.
Com o meu corpo ensanguentado,
e as mãos lavadas de orvalho,
e ainda a tremer, percorri o labirinto do tempo, procurando-te sem cessar.
Envolvi-me em mil deleites só pela ilusão de te ter.
Submergi na antiga cidade submersa pelo tempo de um azul profundo e cintilante,
e encontrei as ruínas de nós dois.
Estátuas de pedra e sal banhadas pelo coral que resplandecia na luz matutina.
E ali estávamos.
Como sempre estivemos.
Olhar em olhar.
Visão de profundezas imersas na água azul escura.
E desfiz o encanto, e abracei teu corpo,
dando-te vida e trazendo-te, mais uma vez, para junto de mim, confundindo o tempo.