Era Inverno, Lembro-me, Quando te Conheci
De repente senti-me envolvido por uma legião de anjos e todos me falaram sobre ti.
Mas a tormenta ainda não tinha passado
e o sangue que derramei quando me piquei nos espinhos das rosas do jardim
voltou novamente a jorrar de dentro de mim
e senti-me envolvido por uma dor insuportável que teimava em terminar.
No meio de trevas e névoas negras
avistei aqueles seres de asas que vinham em meu auxílio,
mas nada mais.
Eles só queriam dizer que voltarias um dia.
Mas não acreditei, porque minha dor mantinha-se
e ainda não havia esquecido o sangue
e a mortalha depositada sobre o teu sepulcro,
já envolvido com o musgo verde e no centro da floresta,
coberto por árvores e folhagem, que de tão densa, não me possibilitou voltar.
E ali fiquei.
Procurando limpar a rocha que agora te servia de morada, mas em vão.
Queria chegar a poder dar-te,
novamente,
o alento da vida e soprar de novo ao teu coração
e falar de novo aos teus ouvidos as palavras doces e ternas
e beijar de novo as tuas pálpebras.
Mas o instante sereno e breve antes de as fechares ainda estava vivo na minha memória.
E chorei.
Chorei, junto dos anjos enquanto me falavam do teu regresso.
E chorei. Chorei, por não conseguir acreditar.
Era Inverno, lembro-me, quando te perdi.