Surpreende-me o mover de sombras
De consistências naturais e escarlates
Que toda atmosfera doma e invade
Fazendo nuvens em meus mil olhos
Fazendo rios das águas que eu choro
Tornando turvo os miríades de cristais
Do líquido espesso e morno onde moro...
Maldizem e maltratam todos temporais
Em tempos imemoriais dos sacrifícios
Onde na pedra do chão se deitava o filho
E o próprio pai arrancava-lhe o coração...
Ó sombras! Rubros espectros de fel!
São apenas nuvens que o belo encobre
Mutantes acarneiradas pelo meu céu
Fazendo-o ser universo e morada pobre!
São só sombras sanguinárias e malditas
Que às vezes tendem a aparecer pela vida
Enquanto as sementes mais brutas e duras
Aguardam as águas poderosas das chuvas
Para deixarem os jazigos onde se ressuscita
Transformando a pele dos olhos Cor-de-cobre
Em nobres jovens dos lábios Cor-de-mel...
Gyl Ferrys