Nada me prende a lugar nenhum
E tudo me prende aqui
Aqui sou mais eu
Nesta casa cheia de mim
Do meu cheiro
Das minhas raízes
Onde nasci pela segunda vez!
Aqui fica a minha alma
Longe disso estará o meu recomeço…
Mas aqui onde fiz amor
Onde vivi raivas incontidas
Onde pari filhos
Insultei e fui traída
Amei e fui correspondida
Aqui está o meu mundo de mulher
Mãe e amante!
Aqui sou mais eu
Sou alma de mim
Gritando o que jamais alguém ouviu!
Aqui vou eu ficar
Na tinta destas paredes
Na cera destes móveis
No frio deste chão
No espelho desta alma imóvel
Desta sombra quieta.
E quando o vento me açoitar
Ansiarei por estes braços meigos
Por este olhar sereno e calado
Viverei no sótão das minhas recordações
Recordarei a vida cheia e vazia
Que aqui vivi…
E os momentos ternos e únicos
Que aqui conheci.
Ah, como te recordarei!
Como sairei de mim
Para te vir visitar!
Caixa mística dos meus desejos
Profundamente traídos.
Escutarei a tua voz
Neste teu silêncio habitado por mim
Recordarei a cor e a pena
Do teu sorriso
Ao partir…
Casa alugada!
Mas tão minha!
Conheci-me em ti
Aprendi em ti
E agora, deixo-te assim…
No futuro
Encontrar-te-ei velha e fria
Suja e cansada de espera
Ou não te encontrarei…
Não!!
Fica de pé, monte de pedras!
Eu voltarei!
Manuela Fonseca