Parte II
A luta foi terrível. Inconformado, resistiu contra o sufoco que passou a sentir. Tudo e todos lhe faltaram, estrangulando as saídas que imaginativamente foi engendrando. Estava rotinado a uma dinâmica intuitiva de gestão das situações, conseguindo habilmente encaminhar o seu barco de feição com o vento. Em cúmulo, era inquestionavelmente racional, por vezes calculista, e tranquilo na decisão. Custava-lhe a incapacidade recente de reagir acertada e atempadamente. Nunca, por tantas vezes consecutivas, lhe escaparam detalhes importantes e até cruciais. Uma a uma, fecharam-se as portas. Inadvertidamente, foi ele próprio a empurrar algumas com estrondo. Também lhe custa compreender o porquê de tamanha prova. Tentou sempre, e sem excepção, ser justo com os seus funcionários, acreditando ser origem de carisma, tal como o avô lhe ensinou. Consciencioso, orientou a gestão da empresa em direcção a uma sustentabilidade inócua, como agora lhe parece. Foi cuidadoso na preparação de um futuro tranquilo. Doce utopia... A sensação de injustiça ecoa-lhe na cabeça frequentemente, demorando-se a relembrar todos os aspectos que a ela contribuem. Por último, já no fim das forças, em desespero de causa, a maior das desilusões. A pessoa que se anunciou como o salvador, era afinal um carrasco reles, pois nem do golpe de misericórdia foi capaz. Roubou-lhe tudo, mesmo o que já não era dele. Deixou-o prostrado, esvaído na alma, ferido de uma morte adiada. Sim, houve resistência até à exaustão. Aí surgiu o desalento, e curiosamente, Fernando, habituou-se a perder.
(FIM)
Boa semana!
Garrido Carvalho
Setembro '09