Capitulo - I
(A CASA DA PRAIA)
Valdemar estava ansioso pela chegada do fim-de-semana. As aulas durante a semana tinham sido muito cansativas e tudo por culpa dos exames finais. Um fim-de-semana na casa da praia para recuperar forças, vinha mesmo a calhar e sempre podia contar com a companhia dos seus dois amigos. No inicio da semana tinha pedido aos pais para passar o próximo fim-de-semana com eles e estes concordaram.
As conversas dos rapazes durante a semana, foram sobre uma suposta sereia que os pescadores dizem ter visto perto de uma embarcação fundeada ao largo da Praia dos Búzios na linda Vila de Sesimbra.
Claro que os rapazes não acreditam em nada destas coisas, nem tão pouco em quem lançou o boato, simplesmente o que mais querem é ter o protesto para passarem o fim-de-semana fora.
Joel é amigo de Valdemar desde os 9 anos de idade, é o mais novo do grupo dos três rapazes.
Embora tenha nascido em França e permanecido por lá até aos cinco anos de idade, Joel é filho de pais Portugueses. Os pais de Joel, são muito amigos dos pais de Valdemar e ambos são da mesma turma.
Já Bernardo, chumbou o ano e por esse motivo, não lecciona o mesmo ano dos seus dois amigos. Frequenta outra escola. Encontra-se quase sempre com eles depois das aulas. Tal como os outros, também ele está impaciente e desejoso que o fim-de-semana chegue, para passar dois dias com os seus amigos.
-Finalmente chegou o Sábado! – Já não era sem tempo – Respondeu com alegria Valdemar.
-Está tudo na mochila, penso que não me esqueci de nada! – Disse Joel para o seu amigo Bernardo enquanto este reparava que os pais de Valdemar tinham chegado naquele preciso momento das compras para transportar os três amigos inseparáveis á casa da praia. Eram dez da manhã e Valdemar deu uma pequena descompostura aos seus pais pelo pequeno atraso. O rapaz estava de tal maneira impaciente que não se conteve em chamar á razão os seus jovens pais.
Bernardo e Joel saíram logo em defesa dos pais de Valdemar:
- Não vês que o transito na nossa cidade aumentou com a população? – Responderam os dois com ar sorridente e moderador.
A casa da praia dos Valdemar, fica numa bonita encosta perto de Sesimbra e todo o espaço envolvente á casa tem palmeiras por toda a parte e goza de uma invejável vista sobre o mar.
O caminho de acesso, é um pouco acidentado e as possibilidades para um carro lá chegar são muito complicadas tal é o estado do terreno.
Os pais de Valdemar têm uma pessoa a cuidar da casa quando estão ausentes durante os fins-de-semana. Trata-se de uma senhora muito simpática, que já conhece os rapazes desde a alguns anos atrás e que já chegou por várias vezes a prepara-lhes algumas refeições ligeiras quando estes planeiam ir até á praia. A praia fica mesmo a uns escassos cento e cinquenta metros da porta de casa, pelo que os rapazes não têm de andar muito quando precisam de ali se deslocar.
Foi com imensa alegria que a mulher gordinha de estatura baixa, viu de novo Valdemar. Já soubera antes que os três aventureiros iriam ali passar o fim-de-semana. O pai de Valdemar, tinha-lhe telefonado uma semana antes a contar da novidade.
- Agora portem-se bem e façam tudo o que a Ti
Noémia mandar para correr tudo bem e não haver problemas – Respondeu o pai de Valdemar olhando para o relógio dando sinais de que já estava com pressa para se ir embora. Dito isto, agarrou na mão da sua mulher, despediu-se do filho, da governanta e dos seus dois amigos e saíram. Os rapazes vieram à porta despedir-se e ao acenar,
viram já o muito antigo Renault 21 desaparecer por um pequeno desfiladeiro deixando atrás de si uma enorme poeirada.
Finalmente os três amigos estavam sós.
Capitulo – II
(VALDEMAR E OS AMIGOS VÃO À PRAIA DO BÚZIO)
- Toca a levantar da cama! – São quase oito horas da manhã e os meninos pelo que estou a ver, vão perder um excelente dia de praia. Está-se mesmo a ver que o menino Valdemar não pôs o despertador - Respondeu a mulher em tom de ralhe-te.
- Pois foi! Estava tão cansado que nem dei pelas horas passar – Defendeu-se Valdemar para não ficar mal perante os seus dois amigos.
Rápida mente saíram das suas camas e dirigiram-se de forma calma para as duas WC que a casa dispunha e trataram da sua higiene pessoal. Na mesa esperava por eles um refinado pequeno-almoço. Estavam todos com grande apetite e não foi muito difícil a Tia Noémia ter pouco trabalho a levantar a mesa.
Pegaram nas suas mochilas, agradeceram á gentil senhora o facto de ter preparado aqueles miminhos e saíram ambos de caminho até à Praia dos Búzios.
Valdemar conhecia bem o caminho para aquela Praia, não fosse a sua praia de eleição.
Demoraram cerca de vinte minutos a percorrer o caminho por entre rochas e arvoredos, mas no final valeu a pena a caminhada. Aquela praia embora fosse muito limpinha, tinha uma enorme piscina escavada nas rochas onde a água do mar entrava com naturalidade e ali permanecia até a maré vazar.
Quem a via á distância, parecia-se mesmo com um enorme búzio cheio a transbordar de água. O nome com que alguém baptizou aquela praia, Praia do Búzio, estava mesmo a condizer com as suas características. Como as rochas não tinham muita profundidade, a água era aquecida pelo sol o que mantinha as temperaturas da água sempre quentes a qualquer hora do dia. Além disso, os rapazes sempre podiam abrigar-se da torreira do sol procurando abrigo nas sombras de alguns pinheiros mansos que se encontram por ali.
- Quem vai primeiro ao banho? – Perguntou Joel tirando a sua t-shirt.
Ainda não tinha a resposta, já os seus dois amigos corriam em direcção à água.
Foi então que Joel reparou numa embarcação que estava fundeada próxima das rochas já numa parte da entrada da piscina onde os rapazes mergulhavam naquela altura.
- Aquele barco não é o Almaraz que ali está? – Perguntou Joel a Valdemar que estava mais próximo dele.
- Não sei! – Mas pelo nome do barco parece ser – Respondeu Valdemar tirando os cabelos molhados dos olhos para observar melhor o que o seu amigo dizia.
Bernardo afastou-se e nadou até ao barco para se certificar da sua identidade e após nadar perto dele, não tinham dúvidas. Era mesmo o Almaraz que ali estava.
Decidiram então e porque já estavam cansados de tanto nadar, sair da água e ir para terra pegar as suas toalhas. Enquanto se secavam, comentavam a presença do barco e todas as conversas que este tinha despoletado durante a semana de aulas.
- Será que existe mesmo a Sereia de que tanto se fala? – Perguntou Bernardo aos dois rapazes por este também ter ouvido as notícias a respeito do surgimento da misteriosa Sereia.
- Claro que não palerma! Isso são coisas do passado. Alguém noutros tempos andava a sonhar com mulheres com barbatanas. Tudo indica que os marinheiros tinham alucinações por passarem muitos dias no mar sem terem contacto com ninguém e daí surgiu essa lenda. O certo é que ainda hoje não ficou provado cientificamente que tenha existido alguma Sereia.
Com este esclarecimento de Valdemar, tanto Bernardo como Joel estavam ambos de acordo com o amigo.
O banho abriu o apetite aos rapazes. Devoraram as sanduíches e os sumos que a Tia Noémia lhes tinha preparado e apenas tinham para o resto da tarde algumas peças de fruta. Decidiram então deixar a praia mais cedo do que o previsto.
Como ainda se sentiam um pouco cansados por terem tido uma semana muito cansativa, fizeram o caminho de regresso para casa a cantarolar e felizes por desfrutarem daquele magnifico local.
Capitulo – III
(O DESAPARECIMENTO DO MESTRE DO ALMARAZ)
Chegaram a casa e a Tia Noémia estranhou os três rapazes regressarem da praia àquela hora da tarde. Ainda não eram cinco da tarde no relógio da sala.
- Porque não vão tomar banho de água doce e saírem um pouco para se distraírem? Sempre podem ir até à mercearia do Sr. Januário – Tem lá jogo de matraquilhos e jornais para ler. Além disso, recordo-me de ter visto por lá umas rapariguinhas engraçadas das vossas idades e sempre podiam no regresso trazer-me algumas coisas de que preciso e que estão-me a fazer falta para preparar mais logo o jantar.
Valdemar achou boa ideia e recolheu facilmente o apoio dos dois amigos.
Chegados á mercearia, os matraquilhos estavam ocupados. Foram de imediato cumprimentados pelo Sr. Januário que ao ver Valdemar acompanhado com os dois amigos, fez logo questão de o cumprimentar.
- Está tudo bem, menino Valdemar? – Já vi que trouxe companhia – Respondeu o simpático merceeiro que já conhecia o rapaz desde pequenino.
-Que os trás por cá? - Questionou de novo o Sr. Januário.
- Viemos á procura da Sereia! - Respondeu Valdemar em tom de brincadeira
- Não brinque com coisas sérias menino Valdemar! – Advertiu o merceeiro com ar de quem não tinha gostado.
- Do que está a falar Sr. Januário? Porque fez essa afirmação? – Tratou de perguntar Valdemar.
- Pensei que o menino já sabia!
Ambos os rapazes estavam na expectativa de ouvir o que o merceeiro tinha para lhes contar.
- Então não sabe que o mestre do Almaraz está desaparecido há alguns dias e que ninguém sabe do seu paradeiro? - A família está desesperada e as autoridades marítimas não sabem mais onde procurar. Tudo indica que caiu do Almaráz, quando puxava o bote, para o prender à ré.
- È muito estranho que isso tenha acontecido naquele sítio onde ele tinha o barco preso – Respondeu um pescador que ali estava e que pretendia entrar na conversa.
- Além disso, a zona tem pouca profundidade e o Joaquim sabia nadar muito bem. Fui a única pessoa que o viu pela última vez – Comentava o pescador um pouco orgulhoso de si próprio.
- O Joaquim não era pessoa de beber copinhos, foi isso que transmiti à polícia marítima.
- Na tarde em que o vi pela última vez, estávamos ambos a bordo dos nossos barcos. Tanto ele como eu, achámos estranho ouvir algo parecido com os cânticos da igreja, um pouco por toda a parte. Do meu barco, conseguia ver bem o Joaquim, estava a puxar o seu bote para a ré, enquanto curiosamente uma rapariga, com enormes cabelos compridos, nadava próximo do Almaráz, sem se importar com nada.
- Tentei localizar de onde viriam aqueles cânticos e enquanto reparava se seriam dos altifalantes da Doca Pesca, olhei para o Joaquim mas ele já não estar abordo do seu barco.
- E a rapariga que ali nadava? - Perguntou Valdemar com a maior das curiosidades.
- A rapariga, tal como o Joaquim, desapareceu.
- Pelos vistos, não era aqui dos arredores, pois a policia não recebeu qualquer pedido de ajuda para investigar ninguém que tivesse desaparecido.
Dito isto, o Sr. Januário fez questão de pagar umas limonadas aos rapazes e um copo de vinho tinto ao pescador que contava a sua história já um pouco perturbado.
Ficaram também a saber que o Sr. Joaquim tinha uma filha única e que viviam ambos numa pequena casinha, perto da Praia do Búzio.
Bernardo olhou para o relógio e deu um grito:
- Já são quase 7 horas da tarde! – A Tia Noémia vai ficar zangada connosco, vamos chegar atrasados para o jantar. Além disso, não se esqueçam que ainda temos de levar as coisas que ela nos pediu! – Recordou Valdemar.
O Sr. Januário reparou na aflição dos rapazes e atendeu-os com a maior da rapidez.
Meteram-se a caminho e quando chegaram a casa, tinham a Tia Noémia na porta da rua, à espera dos três rapazes, já preocupada com a demora.
A Sr.ª Noémia não conseguia ter ar de zangada, era sempre muito tolerante e sobretudo, simpática.
Já imaginava o que se teria passado, apenas perguntou aos três rapazes se os namoricos não poderiam ter ficado para mais tarde.
Capitulo – IV
(OS TRÊS RAPAZES CONHECEM A FILHA DO Sr. JOAQUIM)
Durante o jantar, nenhum dos rapazes esqueceu as palavras do pescador lá no merceeiro. A Tia Noémia, apercebeu-se dos comentários dos moços à mesa e que afinal, o atraso estava relacionado antes com o recente desaparecimento do pescador da Vila.
Acabou também ela por ficar contagiada com a conversa dos rapazes e em tom de desabafo, respondeu:
- Pobre Sr. Joaquim! – Era uma excelente pessoa cá na Vila. Todos gostavam dele.
- Ouvimos contar, que deixou uma filha, é verdade? – Perguntou Bernardo com pena do que tinha sucedido aquela família.
- Imagino como se deve sentir a Sandra neste momento – Desabafou mais uma vez a Tia Noémia.
Desde que aconteceu aquilo com o pai, nunca mais a criatura falou com mais ninguém, tal não foi o desgosto. Eram muito chegados, não admira, viviam ambos na mesma casa e depois, só se tinham aos dois. Se quiserem amanhã vou ter de ir à Vila comprar umas flores e posso apresentar a Sandra para vocês a conhecerem.
- Sempre a ajudamos a tentar esquecer um pouco a tragédia que ainda deve pairar na sua cabeça – Propôs a sensível senhora.
- Pode contar connosco! – Respondeu de imediato
Valdemar, acabando também por falar em nome dos outros rapazes.
- Teremos muito gosto em acompanhá-la amanhã nessa sua visita – Garantiu Joel.
Ao serão, decidiram jogar às cartas, a Tia Noémia, mesmo sem perceber muito do jogo, também se juntou ao grupo.
Quando já eram 11 horas da noite, a governanta achou por bem, interromperem o jogo dado ao adiantado da hora e irem-se todos deitar. Lá fora, o rebentamento das ondas do mar, deu uma ajuda aos rapazes, para se deixarem adormecer. Valdemar estava ainda acordado, imaginando como seria a filha do Sr. Joaquim.
Quando acordaram na manhã seguinte, o dia já estava muito quente. Quase todos os meses em princípios de Julho, aquela zona costuma ser muito abrasiva.
Ninguém queria fazer esperar a Tia Noémia. Todos estavam prontos, para a acompanharem na sua deslocação à Vila.
Chegaram à florista, a senhora parecia já conhecer muito bem a Tia Noémia.
- Vens muito bem acompanhada, Noémia! Quem são os teus amigos?
- Estes meus amigos estão lá em casa a passar o fim-de-semana com o menino Valdemar – Respondeu a criatura de imediato dando dois beijos a sua irmã Manuela.
Manuela é quem tem um pequeno negócio da venda de flores na Vila. O pai de Noémia e Manuela, antes de falecer, deixou às duas irmãs aquela pequena loja.
- Que mais te trouxe à Vila, mana?
- Resolvi trazer os rapazes comigo para os apresentar à Sandra. Pode ser que sempre distraia a pobre da rapariga.
- Acho que fazes muito bem mana! – A rapariga desde que o pai desapareceu, já vai às aulas, mas a pessoa que está a tomar conta dela, queixa-se que a miúda não conversa com ninguém, a não ser com os colegas lá na escola.
Despediram-se da florista e continuaram o passeio, sem perder de vista a Tia Noémia.
- A sua irmã é muito simpática! – Elogiou Valdemar.
Noémia ficou radiante por ouvir o elogio da boca de um rapaz de apenas catorze anos de idade sobre a sua irmã.
Chegaram finalmente á casa do Sr. Joaquim.
- Só pode ser aqui! – O número que a minha irmã me indicou é o nº 7.
E era mesmo. A governanta não estava enganada com o número da porta. Enquanto trocavam palavras, abriu-se uma das janelas, Noémia reconheceu a rapariga que estava naquele momento a observá-los.
- Que procura senhora Noémia? Passou-se algum problema? Espere um pouco que vou abrir a porta.
- Quem são estes rapazes? – Perguntou a rapariga um pouco surpreendida, mas também um pouco de tudo, envergonhada.
- São meus amigos, passei por aqui para saber como é que estás, gostaria de os apresentar, posso?
Sandra tinha os cabelos loiros e olhos verdes, andava pelas idades dos três rapazes. Estes ficaram especados sem saber o que dizer à rapariga. Estavam muito embaraçados com a beleza da rapariga.
Sandra fez então questão de não ficarem ali plantados à porta e convidou-os a entrar. Decidiu ir buscar um bolo e uns copos de refresco.
Ninguém recusou a gentil oferta da rapariga. Sandra parecia ser de poucas falas. Foi então que surgiu na sala, a presença de uma senhora de idade avançada, que fez questão em conhecer as visitas que tinha em casa.
Após algumas apresentações, ficaram a conhecer a irmã da avó materna de Sandra. Era aquela senhora agora, que tinha ficado responsável por substituir a ausência do pai da rapariga.
Apesar da idade, demonstrava ainda ter a lucidez suficiente para cuidar da casa e da Sandra.
- Porque não combinam amanhã em ir até à praia, com a minha Sandra? – Respondeu a mulher, apanhando todos de surpresa na sala.
- Boa ideia! – Respondeu Valdemar.
Mas a maior surpresa foi quando Sandra abriu a boca e respondeu afirmativamente à proposta da Dona Nascimenta.
Os três rapazes não cabiam em si de contentes. Tinham ao fim ao cabo, ganho as atenções e o respeito daquela rapariga.
Capitulo – V
(A SANDRA TEM UMA IRMÃ)
- Desta vez não foi preciso o despertador! – Respondeu a governanta a Valdemar, reparando que nenhum dos rapazes já não se encontrava nas camas.
- Estamos cheios de pressa Sr.ª Noémia, ficámos de ir ter com a Sandra, lembra-se?
- Sim, não havia de lembrar-me?
A Tia Noémia tinha preparado um lanche reforçado para os rapazes levarem para a praia. Tinha também contado com Sandra. A pressa era tanta para se encontrarem com a rapariga, que pegaram nas mochilas, sem se despediram da simpática senhora.
Quando chegaram à casa da Sandra, já esta aguardava por eles no quintal. Cumprimentaram-se e Valdemar quis ser mais simpático. Propôs levar a sacola da rapariga, mas esta, percebendo o piropo, não aceitou.
Sandra também tinha as praias perto da sua casa.
Os rapazes durante a noite, tinham combinado, que não iriam naquele dia, para a Praia do Búzio. Acharam que não era boa ideia, a rapariga ver o barco do seu pai. O que pretendiam naquele dia, era proporcionar um dia de distracção à rapariga e a escolha daquela praia, poderia trazer más recordações.
Escolheram então, ir para uma outra praia, um pouco mais afastada, onde poderiam se assim o entendessem, alugar um barco de recreio.
Ficaram então a saber que Sandra frequentava o mesmo ano que Valdemar e Joel. A rapariga parecia agora, confiar mais nos seus novos amigos.
Sandra agradeceu, terem-na convidado para ir até à praia com eles e disse; que fazia tempo, que não se sentia tão bem.
Os rapazes agradeceram e retribuíram os elogios à sua nova amiga.
- A minha irmã, decerto, iria muito gostar de estar aqui connosco – afirmou Sandra.
- Tens uma irmã? – Perguntaram os três rapazes. Tinham sido apanhados de surpresa naquele momento e não sabiam bem como lidar com a notícia.
- Tenho! – Mas pouca gente sabe - Respondeu a rapariga com orgulho.
- Que é feito dela? – Perguntou Valdemar com algum receio da amiga achar que o rapaz estava a meter o nariz onde não é chamado.
- Trata-se de uma longa história, iriam ficar aborrecidos por a ouvir – Respondeu Sandra.
- Porque é que não vamos todos ao banho e depois contas-nos tudo? – Propôs Valdemar para não aborrecer a rapariga.
Todos concordaram com o rapaz. Joel parecia um pato dentro de água. Tinha lições de natação fora da escola e isso notava-se muito.
Bernardo bem barafustou com os seus amigos para não ir à água, mas estes não ligaram ao seu capricho.
Arrastaram-no na mesma, enquanto este berrava para os intimidar. Estavam-se a divertir muito.
Sandra observava de perto, todas aquelas maluquices próprias da idade com um sorriso nos lábios.
Desta vez o lanche não iria esgotar como acontecera no dia anterior. A Tia Noémia, tinha reforçado a dose. Decidiram todos visitar o seu farnel para almoçar.
Uma gaivota com ar atrevido, arrancou um pedaço de pão da mão da Sandra, enquanto esta olhava para o lado distraidamente. Assustou-se, mas quando reparou na sua amiga, rapidamente sossegou, recordando-se de imediato, que já tinha tido encontros antes com estas aves, lá no seu quintal, principalmente nos dias de vendaval.
- Se quiseres, já podes contar-nos tudo sobre a tua irmã! – Disse Valdemar.
- Está bem! – A minha irmã mora perto de Sampaio – Faz tempos, que não nos vemos uma à outra.
È loira tal como eu, mas um ano mais velha. Não somos filhas da mesma mãe.
- Como se chama? – Perguntou Valdemar muito interessado em ouvir o que Sandra tinha para contar.
- Chama-se Sara!
- Meu pai antes de conhecer minha mãe, teve um caso com a mãe da Sara. Nunca soube que ela era sua filha - A mulher sempre o escondera de meu pai. Quando minha mãe soube, deixou o meu pai. Pelo que o meu pai soube, passados dois anos da minha mãe o deixar, a minha mãe faleceu, dizem que foi vítima de doença maligna.
Dito isto, Sandra comovida, começou a chorar. Valdemar deu-lhe um guardanapo de papel para a rapariga limpar as lágrimas.
- Deixa, desculpa, não devíamos ter insistido nesta conversa. Não precisas de nos contar mais nada – Falou Valdemar tentando confortar a sua amiga.
Mas Sandra estava decidida a contar toda a sua história e continuou:
- Minha mãe era muito ligada ao meu pai – Acho que foi por isso, que não aguentou a ideia de existir outra mulher na vida dele e afastou-se.
- Recordo-me como se fosse hoje, quando a minha mãe, esperava na praia pela chegada do meu pai do mar.
Minha mãe nadava muito bem. Adorava nadar ali naquela praia onde dizem que o meu pai desapareceu. Havia quem disse-se na Vila, que a minha mãe por ter os cabelos tão compridos e nadar tão bem, era parecida com uma sereia.
- Penso que meu pai nunca conseguiu esquecer o amor que tinha pela minha mãe e deve ter cometido uma loucura.
- Porque dizes isso? – Interrogou Joel.
- Digo, porque houve um dia ou dois, pelo menos, que ouviram o meu pai dizer que um dia punha termo à vida.
Os três amigos depois de escutarem Sandra, entenderam porque razão, tinham ouvido lá na escola, o boato, sobre o aparecimento da Sereia.
- Vamos dar uma banhoca? – O sol está a queimar-me os neurónios, ninguém quer apanhar queimaduras de ultimo grau, pois não? – Disse Valdemar para tentar mudar a conversa.
- Vamos sim! – Respondeu afirmativamente Joel, entendendo os sinais do seu amigo Valdemar.
Não foi muito difícil com o calor que estava, Sandra e Bernardo juntarem-se ao resto dos rapazes.
A temperatura da água, já não estava como no princípio do dia. À medida que o tempo passava, ia arrefecendo como é natural.
Resolveram então arrumar todas as suas coisas que estavam dispersas e regressar.
Sandra agradeceu imenso a companhia de todos os seus amigos e lançou o convite para quando os rapazes voltarem à casa da praia, não se esquecerem dela.
Ao chegarem perto da casa da praia, repararam que o carro dos pais de Valdemar, estava estacionado onde tinham deixado os três rapazes inicialmente. Isso significava que o fim-de-semana, estava a chegar ao fim. Era Domingo, no dia seguinte, os rapazes tinha de voltar à escola.
- Vamos? – Respondia o pai de Valdemar com a pressa de sempre, enquanto a mãe abraçava ainda o seu filho.
Espero que tenham gostado!
FIM
GABRIEL REIS