No meio das águas aquela pedra despida pela lua
vai ou tão mais nua do que eu, mar adentro.
Não há razão que sobeje a um dia de chuva
nem préstimo que valha a razão que julguei ser minha.
Caem inabalavelmente as gotas desprezando qualquer
filosofia até agora adjacente ao meu modo de pensar,
que sempre tive em crer ser bastante perspicaz.
Molham-se estradas, confinando o pensamento
para a sem razão de minha limitada pessoa.
Assim conformo-me com a grandeza da natureza,
que e a si mesma se basta, como a um trovão ao longe.
Entrego-me à sorte diluviana e prestando atenção
nos vidros, o que vejo é só uma ilusão criada por mim.
Aqui não cabe filosofia ou teologia alguma:
chove porque chove e assim está certo e assim tem de ser.
Gradualmente a chuva vai cessando e eu sinto-me
limpo por dentro, porque nada impus nem tive propósito.
Até que da natureza, enfim, compreendi a sua
absoluta obrigação: pretérito mais do que perfeito…
Jorge Humberto
30/09/09