VIII. A Idade da Terra
Recusava-me a ver, mas o triângulo de fogo sempre ardeu nas tuas mãos.
Três, por três alturas da terra procurei em vão satisfazer o prazer do teu corpo,
e a loucura das tuas mãos em mim.
No solstício queria que me atasses mãos e pés,
pois a loucura, com o despertar do sol, dominava todo o meu ser,
e tornava-me monstro marinho e ave de rapina.
Tornava-me lobo das montanhas e lince das florestas, predador de sonhos,
e devorador de fantasmas e das tuas entranhas,
alimentado pelo sangue que se derramava das tuas veias.
E sentia a luz ardente por detrás do teu olhar,
e como pulsava o teu coração quando se encontrava junto do meu.
No equinócio procurava libertar-me dos dias aziagos,
que porventura houvessem ocorrido entre as ondas da nossa relação,
e traziam-me os ventos o odor das pétalas frescas e da terra em morte lenta.
E falavam-me da obscura luz e da queda das folhas e que as árvores já haviam se despido.
Na outra idade da terra só havia silêncio.
Não existiam palavras e as bocas só se uniam para beijar.
Na outra idade da terra nada existia, apenas um só céu e uma só terra para nos amarmos,
só um sol para nos aquecer e nada mais.
Nada que houvesse para acalmar, pois em paz estávamos, contemplando o Principio do Mundo.
Do Livro de Joma Sipe "Afoguei-me Em Ti" - Parte I - Os Dias da Criação Ou O Antes de Ti