II. Os dias seguintes
Cada lágrima minha é uma parte da tua dor.
Senti a seiva das árvores e das flores no meu sangue,
e vivi para sempre junto ao rio no quintal de nossa casa.
Eram dias felizes aqueles em que me vestia de verde,
e me coroava de grinaldas quando o tempo de colher azevinho havia chegado,
e os vermelhos frutos colocavas na minha coroa.
E dizia-te que nunca chegaria o dia.
Que o dia de colher o trigo e o centeio eram os únicos que trariam morte.
Mas assim tinha de ser para existir pão.
Mas logo seria a estação das chuvas,
e as espigas de novo renasceriam na superfície dos planaltos e charnecas.
Que quando morria o sol no horizonte essa era a única morte e partida que aconteceria,
e quando a terra se cobria de escuridão era só porque a obscuridade era precisa,
para que as estrelas, que formavam os olhos da noite, pudessem ver e abençoar os homens.
O verão também morria e as árvores com ele.
O Inverno também tinha o seu fim e as neves com ele.
E a tua dor também morreria e seria de novo Inverno,
e depois verão dentro de ti e esses dias jamais chegariam ao fim.
O fim não existia como também não havia existido nenhum princípio.
O fim e o início eram um só e nada em simultâneo.
A tua dor era tudo e cada lágrima minha um tudo e nada de ti mesmo.
Do Livro de Joma Sipe "Afoguei-me Em Ti" - Parte I - Os Dias da Criação Ou O Antes de Ti