I. O Começo de Tudo
Neste lugar tão só,
Vi, com a visão dos mortos, mundos deslumbrantes e planetas de imensidões,
de planícies, montanhas, vales e mares e eu era um só.
Um só sobre a terra, que a visão da minha fronte teimava em manter à superfície dos meus olhos.
E não mais algum ser habitava agora a terra em que nasci.
Só. Na imensidão de tudo. Eu era tudo.
Tudo aquilo que existia e não existia.
E os ribeiros transportavam o meu sangue,
e os mares fabricavam ondas com os líquidos das minhas entranhas,
e das minhas lágrimas era fabricado o sal do mundo.
Os meus olhos eram a luz da noite e abarcavam a imensidão das estrelas e tudo o que brilhava.
Dos meus lábios era colhido o vento com que eram fabricadas as tempestades,
e da minha boca toda a criação recebia alimento.
Dos meus cabelos fizeram-se paisagens,
e de todo o meu corpo vales e montanhas eram criados,
e tinha em mim todas as cores do arco-íris,
e era eu que libertava os relâmpagos nos céus,
e depositava chuvas sobre as colheitas, chorando sobre o mundo.
Aos meus ouvidos e ás minhas narinas eram recebidos os clamores das flores,
e o odor do nascer do sol.
E quando o sol se deitava, vestia-me de noite e coroava a minha fronte de estrelas.
Nesse momento sentia-me tão só.
Porque era tudo e nada tinha.
Do Livro de Joma Sipe "Afoguei-me Em Ti" - Parte I - Os Dias da Criação Ou O Antes de Ti