Não sei quando vou morrer, nem sei se está perto ou não a hora da minha morte mas sei que chegou um momento de escrever o meu testamento.
Tenho a alma a rebentar de tristeza, as veias cheias demais, o sangue parado quebrando o tempo que me resta e só me apetece escrever e escrever, escrever e escrever e deixar que a tristeza se apodere de mim.
Quando morrer quero que toquem guitarra para mim, dedilhem-me uns fados, leiam-me um poemas, façam o meu corpo morto sorrir. Não! Não me tragam ramos enormes de flores, quero que cada um me traga uma rosa branca.
Quando morrer quero que me contes segredos e te sentes junto ao meu caixão, me dês a mão já fria e me aqueças de novo o coração.
Deixo ao meu irmão a minha colecção de pacotes de açucar, não são muitos, desde que estou triste que não mais me dediquei a mantê-la. À minha mãe deixo os cd's de música clássica, talvez um dia ela ainda consiga gostar de os ouvir. Ao meu pai deixo-lhe a minha bola de andebol, quero que ensine o meu irmão a jogar. À minha avó deixo-lhe todos os sorrisos que guardei em fotografias, o velho e grosso álbum. Ao meu avô o meu livro "Leva-me", boa companhia até a morte chegar.
A ti deixo-te todos os meus textos, os que já publiquei e aqueles que guardo no baú dos segredos; deixo-te o cd do Damien Rice afinal tu é que mo apresentaste; deixo-te o meu bloco de notas cheio de segredos; deixo-te a possibilidade de seres feliz ao lado de outra pessoa.
Não quero que julgues que não sei o que estou a fazer, nunca se sabe quando a morte chega, tem tons transparentes e vem surrateira.
Não tenho muito mais para deixar a não ser o meu exemplo de vida, de amor. Que me não esqueçam nunca os mal amados e os pobres de espíritos e que sempre me leiam porque nos meus textos está tudo o que sou.
. façam de conta que eu não estive cá .