Pergunto-me, por vezes, Quão só estamos?
Entro no café de manhã e vejo-os quase todos os dias, dois homens, de alguma idade, mesas separadas, em frente a uma torrada e um copo de leite, não olham a televisão ligada aquela hora para a noticia madrugadora, nem o jornal, diligentemente colocado ao fundo das mesas. Sozinhos.
Numa outra mesa, disfarçada pela coluna que separa a zona de balcão da das mesas, uma rapariga distrai-se diariamente em jogos no telemóvel. Permanece desde que entro até que saio. Sozinha.
No restaurante, à hora do almoço, a rapariga a quem tenho acompanhado a evolução da gravidez, senta-se invariavelmente na mesma mesa, fixa a televisão numa necessidade de se manter alheada da conversa animada dos grupos que vão enchendo o local. Sozinha.
Há uma senhora de idade que pede uma sopa e um cesto de pão, ocupa a mesa mais recôndita, agarrando com força um saco e uma pequena bolsa, e fita as unhas enquanto come. Sozinha.
Ao fim-de-semana aparece o sem abrigo das tranças, figura caricata, muito alto, muito magro com o cabelo comprido todo entrançado.
Lança-nos um meio sorriso quando lhe estendo o saco de papel com fruta e sandes, murmura algo que não consigo entender e segue o seu caminho. Igualmente sozinho. Quase invisível.
Na esplanada que gostamos de frequentar ao fim-de-semana depois do passeio matinal à beira rio há já três caras conhecidas. Pessoas de idade, olhos fitos na água, por vezes levemente distraídos com a algazarra dos mais pequenos, por vezes esboçando um sorriso triste no meio de rugas, que, estou certa, não apareceram sozinhas.
Quão só estão tantos?