Vivo como quem sorve a gota do sereno
Na sede da ressaca dos matinais
Vivo como quem absorve o impacto do golpe
Na rede da ressaca das marés estivais
Vivo como quem ouve o estampido surdo
No ronco da cuíca nos acordes madrigais
Vivo como quem comove o transeunte mudo
No troco da rica esmola nos gemidos abdominais
Vivo como quem reteve o grito no peito
Na angústia do infarto nos prematuros terminais
Vivo como quem louve o rito feito
Na réstia do absorto contemplar nos futuros germinais
Vivo como quem clame por Zeus adorado
No vício que tece os martírios zodiacais
Vivo como quem ame o Deus evocado
No silêncio da prece nos mistérios espirituais...
AjAraújo, Outono, 4/2003.