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#32

 


. façam de conta que eu não estive cá .

penso a solidão da casa plantada sobre a minha íris, enceno a sua morte, lenta, como um incêncio mais interior do que exterior. a solidão dos espaços é indiferente à minha solidão, quase como se de tão aparentemente indissociáveis se unissem em sangue, quase como irmãs. a solidão da casa não choro, não me pertence, e embora lhe saiba todas as estações como se me pertencessem, não sou outono nela. posso ser outono na minha solidão, mas na minha casa não o sou, aqui dentro sou o que quiser ser por fora. subitamente é aqui que aprendo a morrer mais devagar ou a morrer por inteiro.
 
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Margarete
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Enviado por Tópico
Paulo Afonso Ramos
Publicado: 23/09/2009 23:50  Atualizado: 23/09/2009 23:50
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 Re: #32
De uma escrita íntima que só o silêncio consegue sentir...

Interrompo esse silêncio para agradecer-te, pela escrita, pela partilha.

Como nos velhos tempos, sempre presente!

Um beijo

Enviado por Tópico
Amora
Publicado: 24/09/2009 02:38  Atualizado: 24/09/2009 02:38
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 Re: #32
Quanto mais leio mais lamento não ter escrito, e mais admiro o que a solidão faz às pessoas que sabem o que fazer com ela! Sempre aqui, um beijo em ti!

Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 25/09/2009 00:01  Atualizado: 25/09/2009 00:01
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 Re: #32
uma escrita sempre surpreendente
abraço

Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 25/09/2009 20:33  Atualizado: 27/09/2009 18:18
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 Re: #32
..deixo-te a minha casa.

respiramos e da palavra o regresso dos lunáticos.avivam a alma e abrem o corpo ao corpo desnudado.uma pequena morte os acompanha.permanecem nas gavetas outros escritos da memória distante.de um outro corpo.de um outro caminhante.é bom falar para o coraçao da noite.no encontro do silencio sangue.na passagem do suícida e no nascimento da ossificaçao da flor breve.nas ruas,a imensidao das horas.no corpo a casa .que casa agora.um ultimo beijo deixo às matérias sensíveis.aos homens magma.pois o húmus é longo e àgil na pedra da fraternidade.que casa .rebentam ultimos suspiros ao mar revolto.é das raízes o som que reclamo.as que nascem no fundo do ventre.como as amo.escalam neves e pedra-lágrima.e adormecem nas areias àridas.sao a erosao da terra e feitas da lucidez de quem ama.sao os seus antepassados celestiais.vem comigo agora.derramamos o vinho.encostamo-nos ao tempo.

beijo mar.