Ah, sabia, sim, que tinhas uma morada improvável,
um degrau de árvore como trono de rei desencantado,
onde as folhas te cochicham conspirações de insetos
e, a cada noite, ensaias monólogos para o musgo.
Vi-te a inventar mundos a partir do que outros abandonaram,
pálpebras invisíveis, claro — a última moda no país dos cegos!
Ali, entre um arrastar de móveis imaginários
e perfumes vazios com cheiro de ontem,
plantaste a tua dor como uma plantinha decorativa,
regada com as lágrimas de três mil poetas em fim de carreira.
E sim, há rumores que Deus te bate à porta
à procura de um trocado ou uma conversa fiada;
o que não sabes é que ele deixou o infinito à deriva
para viver das sobras da tua imaginação folclórica.
Nesse teu quintal peculiar, as facas florescem em abril,
e os garfos pendem como frutos da árvore do absurdo.
Ouvi dizer que na última visão foste o protagonista,
apresentado com honras e fanfarras imaginárias.
E então, foste visto a dançar uma valsa fúnebre
com memórias mamíferas, enquanto os mortos te aplaudem
como se estivesses a um passo de um prémio póstumo.
Mas olha, para onde vais, o vazio é mobília de luxo,
e decoradores de interiores ficam à porta.
A tua viagem é um tour de força por dentro de ti,
uma excursão surreal com guias que não sabem voltar.
Talvez, no final, só reste o branco — claro, o branco absoluto,
com direito a um último suspiro,
mas agora em grande estilo:
como uma piada interna do universo a teu respeito.
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Bem-vindos ao meu refúgio, onde desvendo os mistérios da mente humana através da neurociência e da arte da palavra. Sou uma simples pessoa que, nas horas vagas, se torna escritora, explorando o mundo através da observação. Amante das artes e da diversi...