Comentário a "De Sísifo" de gillesdeferre

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6/11/2007 15:11
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Sísifo é a história de um castigo. De um castigado, melhor.
Segundo a mitologia, tem requintes de malvadez. Uma condenação digna do inferno judáico-cristão.
A eternidade é passada a subir uma pedra gigante que se rola montanha acima, para novamente descer desde o cume à base, e voltar a fazer subir a pedra.
Trabalhos forçados. Repetidos. Ad infinitum.

Mas do que fala este poema, para além do mito?

A chave está no último verso.
A construção poética dá-nos uma personificação, uma comparação, uma metáfora e sempre tendo em conta uma estética aprumada na linguagem.
Não se procura excessos. Embora pela riqueza do tema estarmos perante uma antítese.

O uso da "...morte..." é inteligente.
Na primeira estrofe, é explorado o seu lado intemporal.
Porque "...regressa sempre...", tem essa maldição.
A comparação\personificação "...do corpo falível..." apenas tem par com o "...tempo avariado..." e o tom mantêm-se lúgubre.
Mas os tons vão variando de modo muito propositado.
Há uma luz que fecha o poema.

A morte, tem esse papel na vida, de ser uma mola que nos catapulta. O seu mistério, e terror que inspira.
Ela tem um papel enorme nas principais religiões. O que vem depois da morte, o que ele é ao certo é estudo de filósofos e cientistas.
E, claro, de poetas.
Que usamos a morte.
Certamente.
A esperança beneficia, do seu efeito fronteira.
Muitas crenças, como nos pássaros, a metáfora do canto e do voo, têm também o seu fundamento.

Boa conclusão.
Poema enorme.


De Sísifo


A morte regressa sempre, revivendo,
os segundos, minutos, horas
volta na forma viva do corpo falível,
cansado,
esgotando-se
produzindo tempo avariado.

Resvalam das montanhas as pedras de Sísifo,
esmagando-o.
A morte logra os fiéis e só assim é possível acreditar nos pássaros.



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Criado em: 6/8 21:07
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