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É difícil a um toxicodependente explicar a sua dependência. A sua submissão completa ao vício.

Um dia vi, na televisão, um documentário muito sério sobre isso.
A última imagem, e a que me marcou foi a de um casal, muito magro e estragadinho, a pedir desculpa aos pais e a acenar um adeus pelo ecrã.

Como me incomodou isso.

Para abordar o teu texto duma forma absurda.
Eu, que nunca fiz heroína, ouvi a descrição deles do que sentiam aquando da injecção e a ideia que me surgiu, foi a do orgasmo.

Há vício também no sexo.
Há bibliografia e cinematografia a começar a documentar isso.

Mas a questão, é mesmo o orgasmo.
Esse momento, de ascensão, divino, poético, celestial.

Mesmo que partilhado é intrínseco.
Isto é, não somos capazes de sentir o orgasmo do outro.
O "privado" do título também me faz todo o sentido.

Além disso, em oito versos conseguiste fazer melhor do que eu neste todo.

Disruptivo, transformador, saciante.
O orgasmo e o teu poema.

Obrigado.

Abraço


Orgasmo Privado

essa vida bêbada
atravessa o sinal vermelho
enlouquece o amor
sangrando sexo do juízo final
coloca em dia
o aluguel dessa alegria
afundada no calendário

de outro ano qualquer

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