Comentário a "Conversa que ficou" de ruacuzuaco

Membro desde:
6/11/2007 15:11
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Tem graça.
No fim-de-semana da Páscoa passei por uma experiência parecida com esta, em Veneza.
Pus-me a falar com um espanhol que vivia lá há mais de 40 anos.
Falou-me da influência de Provença na região.
Falou-me de como o facto de ser tão marítima a tornou influente na altura da expansão.
Pediu-me para reparar como as ruas ali, ao contrário de outros locais de Itália se chamarem Calle, em vez de Via. Para suportar a sua teoria e o seu conhecimento, claro.

Com uma taça de vinho branco às 9h à porta dum café e eu com um "expresso corto".

Como eu gostei deste teu escrito.
O outro registo que eu estava à espera.
Aparentemente não sabes escrever mal!

Fazes parte dos meus favoritos, não que isso te sirva para nada, mas, pelo menos para mim é bom sinal...

a ver vamos...

O texto também favoritei.

Abraço

Ps.: este é um registo que até o cheiramázedo aprovaria e teria inveja, por não ter escrito.


Conversa que ficou


Um dia disseram-me que os cães entendem a desilusão. Abeiram-se da pessoa, inevitavelmente da pessoa que mais fraqueza denote, e cheiram as extremidades. Páram fixos a olhar nos olhos, porque é sempre nos olhos que estão as fraquezas. E condescendem. Condescendem tanto a ponto de nos começarem a ver como iguais. Lambem as mãos. Deitam-se sobre os pés, achando assim que consolam aquele ser com o qual se deparam, e que precisa mais de afeto do que eles estão a necessitar naquele momento. Recordo-me de quem me explicou isso. Era um velhote que nunca tinha visto. Parecia alienado, sentado num banco de um parque público. Com a mão direita sobre uma garrafa de cerveja quase vazia, e a outra gesticulando de uma forma contemporalizadora. Gostei dele. Sentei-me a seu lado, e falou-me sempre sobre animais. Disse que tinha abraçado a vida há muitos anos, e que os pássaros voam rasos quando estão para morrer. E que há muita sabedoria na quietude e mudança de comportamento dos gatos. Eles conhecem-nos melhor quando se afeiçoam, do que nos conhecemos a nós próprios. Escutei-o com atenção até anoitecer. A conversa terminou quando um homem cabisbaixo passou junto de nós, e pareceu querer começar a cheirar o chão. Ambos observámo-lo, e aí falei eu. Perguntei se ele tinha ainda alguma esperança de vida. Finalmente esvaziou a cerveja que lhe restava, e respondeu que sim. Saber o sabor do vento. Um desejo como outro qualquer. Despedimo-nos com um até breve, sabendo que provavelmente nunca mais voltaríamos a cruzar olhares, ou a trocar experiências.

Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=372723 © Luso-Poemas

Criado em: 25/5 18:03
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Re: Comentário a "Conversa que ficou" de ruacuzuaco
sem nome
Só agora vi este comentário aqui.
E agradeço bastante.

Eu só sou uma pessoa que em vez de meter para dentro, transporta para fora tudo o que pensa

Obrigado de novo.

Criado em: 26/5 13:55
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Re: Comentário a "Conversa que ficou" de ruacuzuaco

Membro desde:
6/11/2007 15:11
Mensagens: 2123
Oi,

Em relação ao pensamento, ele terá de ter uma relação claramente óbvia (perdoa-me o pleonasmo), com a escrita. Até com a poética.
A história de Maomé, por exemplo, está muito mal contada.

Embora o pensamento linear da prosa, muito dada a regras e mais dada à razão, ou ao racional, seja mais associada ao pensamento per si.
Há quem considere difícil explicar como certos poemas, ou apenas só alguns versos dentro dum, sendo escritos, foram também antes pensados.

O pensar também se trabalha, e isso, muitas vezes, permite que o que se escreve seja feito duma forma mais rápida, talvez automatizada ou intuitiva.

Há sempre o risco de escrevermos um escrito que seja fraquinho.
Por vezes pensamos fraquinho, temos defeitos e falhas.

O importante é respeitar a nossa arte, o site e o que ele começa a representar, e ter cuidado na hora de publicar.
A quantidade, não "despejar" tudo duma só vez.
A qualidade, olhando o que escrevemos com olhos de ver, e publicarmos apenas o que nos saiu melhor.

Acho que tens conseguido.

Abraço


Criado em: 27/5 8:01
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