Agudos sons vociferam
Cortando da paixão as teias
Na alma, dores cinzentas dilaceram

Em cacos, a face pranteia
Lágrimas em granito esperam
Um sinal, um sopro na veia

Derramem-se sem demora
Gotas azuis do coração que chora!

Karinna*

Para Ka*
Linda é a doçura
Que exala do espelho de tu'alma...
Lindo céu azul
Belo sentir é o teu...
Traduzido em poesia...
Ainda que o mármore
Gélido nos espera...
Sabemos que um dia
Não vamos nos livrar dele.

Ainda assim, noss'alma espera
A cura da dor no amor debulhado...
Do refolho de um ser consagrado
No amanhecer de um sonho bom...
No solstício inverso d'alma...
No verão de nossas mentes ensolaradas...
Na primavera da vida que nos faz jardim...
No outono que nos faz navegar...
Num oceano de amor
E nos faz procurar a curar toda a dor...
De um coração sofredor.

A poesia que é o balsamo inquietante
Que permeia e acende a lareira
E aquece o desejo de caminhar...
E promulga o melhor que exala do ser...
No seu terno sentir...
No zelo que temos consigo mesmos
E com os outros.
Na responsabilidade do que temos...
Em escrever e desenhar o melhor
Do amar do nosso âmago...
Seja com asteriscos ou reticências...
Bordado, talhado e emoldurado
Na mais bela forma de seu poetar.
Pra ti lindo olhar azul que o céu
adocicou em um pedaço de amor traduzido.

Ray Nascimento

Para a karina.

As gotas do coração
Seguem o trajecto dos
Olhos
Descuidados do sabor dos dedos …

Enquanto a poesia chega
Na pele, desenhada no toque
E se amanha ao sentir mais vivo
De ti,

Pérola coroada de mel
Em cetim dos versos

(real mente)




se o mundo me tocasse apenas

quando
ou sempre que o contemplo
na vastidão de um pensamento
único
despenhado
num raciocínio inexistente
na perceção de um quase
modo de ser
não sentiria o enquadramento
da dor
bifurcada entre dois picos com um vale
estatelado de permeio

renegaria a crença
sem justificação

e o deus que há em mim morreria
a cada instante da eternidade

(que é a real idade)

A feliz idade

Não traz bagagem, nem resíduos de um passado aflito

E o menino que todos dizem viver em si

Não é mais que um mito …

É como afirmar que a poesia é arquetípica envelhecida da moderna emoção…

E a constatação prática, fervilhada na tese literária de Manoel de Barros…

É que a poesia não serve para nada …mas será que serve para dar expressão aos sentimentos?

Afinal os sentimentos precisam de sentimentos para criar a sua própria linguagem …

E quando um pensamento quer criar algum tipo de afinidades com o sentimento, nasce a fala dos poetas magros …originários da "ilha dos amores" (Camões) …

A feliz ideia de amar na poesia … é como uma cigarra sem viola, a naufragar no mar, esperando a ajuda das ninfas do profano…cantando...cantando...cantando...sem parar ...

A feliz cidade é irreal...

Transparente*

O coração despido acaricia o sentimento
Desconhece amarras, tempo e destinos
Somente ama além de si mesmo, busca o caminho.

Desconhece subterfúgios, é cristal brilho...
Tolo coração que não usa maquiagem
Que só tem um querer, uma face...

Por isso são teus meus olhares na janela...

Em dias assim, minha vida espera.

Karinna*

Sábios são aqueles
que soltaram as palavras
ao vento, como aquelas
palavras que aqui veem deixar

Sim...
sábios são los sábios,
que suas palavras
escrevem sem pensar.

Sábios
são los sábios
que escrevem ao luar...
Na noite de estelar
veem escrever no joelho,
os seus sentimentos,
Que estão no seu nivel
de amar!

abraço

Luisa

minha alma fala mais alto
que o próprio ego em mim!

olho com rancor para a poesia.
puxo seus cabelos,
arrebento-a de pancadas:
quero-a sangrando,
rasgada, constrangida.

quero-a nua
e fodida
e sempre de pernas abertas
para a vida das minhas poucas
palavras e desmedida maldição.

Karla Bardanza

[ reversos ]


os sons dos violinos acalentam
o poema que adormeceu no cetim
do leito da sua paixão, poesia. fonte
que flui para o mar do eretismo
onde se refaz saciada , para devorar
com enorme loucura

os mais diversos
controversos, talvez
perversos

versos teus...




“As paixões são os únicos oradores que sempre convencem”
LA ROCHEFOUCAULD

à toda parte que te arde, ora: inflama
qual: ilusão em prepotência da letra de cá
posto: do teu corpo. em assídua flâmula
e: trepida, e trepida.. e: retira-me o ar

por que vi os teus ensejos traçados..
qual menção em anarquia nivelada de mim
e agora.. te verso, em meus erros deixados
não sei se te amo, ou não sei por onde vim

ah.. lápide.. da pele que te livra em florescer
um desenho de ti me define por crime usual
este: de perder o vínculo da tua arte carnal

ah.. parte.. da verve por uma linha, e já esquecer
um tempo perfilado é o meu filme tão preterido
este, por te ferver ao íntimo da verdade em suicídio