preferi a fuga à saudade
neste ponto irredutível
discordo de todos quanto discorrem sobre o tempo
pois aos ventos que parto jamais lhes direi
não sou capaz
não sou capaz de errar a teu lado
faço-me um favor
tropeço no olhar
atiro contra a dor
que nos há-de abraçar

(andarilha por foros citadinos de dentro)


e o vento deu lhe a forma
sabes

nos pés de quem anda
e manda

na tradição
de uma simples canção

volteada no seu sopro
de mitocardioarritmia

sabes
mas isso não é poesia

Imagino um poema
Imagens turvas
perecidas nas
pontas dos dedos
ou sonhos reais
como se fosse eu
um poeta vivo
em puros desvarios
que por certo
serão esquecidos
nas linhas cruzadas
das palmas
das minhas mãos
ou num momento
de loucura
correntes paradas

(o deve e haver divino de um logista trocista)


ora ora
que nem deus
ouve
nem houve
pedinte nem graça
nem (h)avia
a poesia

por ora

(bucólica primaveril)


e é no entrelaçar
de todos os galhos
que as aves acolchoam
de saber e suas penas
a textura do seu ninho
de onde nascerá a vida

isto sim vale a pena
e a poesia não é pequena



(ps.com alguns versos de atraso)

se por morte
de um poema
eu renascer nas suas
duras penas
valerá a pena
ter ocupado um ponto
no horizonte
e não me ter cingido à dor
de ser só a graça
no final do caminho

ao fundo desta rua
nasce por fim
uma cidade minha
o lugar onde encontro
qualquer desgraça
a acordar na praça
o ideal lugar citadino
onde morrem os dias
e nascem as noites
por entre a neblina

(o poema vai nu)


e é no branco da neblina
que o meu corpo se desvanece
e aparece
em turbilhão negro a minha alma
no reverso
das semirretas cinzentas
do meu mundo ao avesso
numa longa rasura
de preto e branco e escura
que acaba na rua
da minha pobre alma
e nua

(versejo etílico)


ébrios são os dias
em que bebi
os versos que pisaste
e fermentaste
no lagar antigo
da poesia
que lavraste com suor
também isso
é amor

atrás do véu da neblina
onde as verdades fenecem
aos olhos dos que dela sabem
nem morta, delas se esquecem...

faça-se pois, que ressuscitem
mesmo doendo seja lá em quem for
pois neblinas não são duradouras
como em todas as verdades há dor...

se num anúncio "precisa-se'
de poeta, para se saber se;
caso poeta fosse profissão.
punha-se expesso no curriculum,
sou quem sou;
sou poeta, sou poema e poesia...