falando nisso:


O sábio que há em você
não sabe o que sabe
o tolo que não se vê.

Sabe que não se vê
o tolo que não sabe
o que há de sábio em você.

Mas do tolo que há em você
não sabe o sábio que você vê.

– Mario Chamie, "O Tolo e o Sábio" em "Caravana Contrária", 1998

Evocar o pensamento
É exorcizar o oculto
O ausente-presente
Que se encobre assim

Mas, de onde ele vem?
Será um legado?

Este falar silencioso
É a desocultação da retenção
Que vive no íntimo do sábio
Que não sabe o que sabe

Ou talvez , o consentimento
Para que possa fluir
Um começo ...de algum fim

O pensar é assim...



Um abraço

Terra que lá vais lavando
O canto dorido da impunidade
Das armas que vão matando
Em vendavais de fúria horrenda
Seres humanos, sem dó nem piedade!
Vóny Ferreira


Grande abraço, Carlos

(sem lapidador)


não me sei
e se soubesse
não diria

quem diria
se soubesse
o que eu sabia

não era poesia


abraço, carlos

e no entanto a palavra regressa
como ave na primavera
entre escombros de luz e de silêncio
colhendo galhos
para a edificação de um só poema

sabe ou não quer sentir o coração quando chove?
haverá forma de responder sem tornar a inquirir?
esqueça
hoje, o sol funde-nos as artérias
vazemos mesmo aqui
a retórica.

Que o poema fale mais fundo
Do que as palavras indefinidas
De todos os que se sentaram
Nos ramos mais altos
Colheram os frutos maduros
Alimentando a fome do inverno
Olvidando a insolvência do mundo

"olvidando a insolvência do mundo"
cada sílaba
traz do orvalho a luz suprema
antes que teu olhar porque distante
do poema
a molde à geada
da indiferença

Instaurador e formador é o poema
Que agradece e reconhece a força
Da imaginação que anuncia
Nesta etérea gratidão
A magia do (a)parecer
Da eterna Poesia...



Um abraço

Escreve do alto do teu ser
De aparo na mão
Algum pensamento
Elabora um puzzle em papel
E pendura-o na tua árvore
Ainda em flor

Refaz a silhueta nascida
Agora na tua nova condição
Pede que lhe seja doada
A forma exacta de um beijo
Expira-lhe o perfume
De raiz irrigada do desejo

Mata essa fome
Sacia esse ser irracional
E parasita que há em ti
Profana o que de mais puro
Há nesse arlequim
Viajante do teu corpo

Maltrata, humilha e despreza
O mais impuro
Esse mal de que sofre
Acende uma vela ao sem abrigo
Que nas trevas
Do teu pensamento, morreu