Comentário a "Curiosidades domésticas", de Beatrix

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6/11/2007 15:11
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Quanto mais curtos melhores, deixem-me pensar.
Primeiro, devido ao título.
Ou seja, na palavra “...domésticas”, que me leva sempre a associar a alguma monotonia. Quase o inverso de curiosidade. O que é de casa, muitas vezes se torna previsível. Quase podem adivinhar o que pensamos, como reagimos.
As “Curiosidades...” são, um pouco, a ausência dessa previsibilidade.
Como se o título se contradissesse.
Sobre este ponto de vista.

Ou o poema pretende mesmo debater essa ideia feita, e se se considere que é necessário para o ambiente doméstico cultivar-se a curiosidade.
Que a curiosidade é algo próprio do indivíduo, que todos devemos procurar. Ainda mais dentro da casa de cada um.
O ser-se doméstico é um desafio, embora seja tradicional e o modo mais usado ainda no mundo. Os divórcios têm, por exemplo, vindo a ser cada vez mais comuns. Existem muitos aliciantes para ser-se menos doméstico.
Passamos mais tempo no trabalho e a caminho do trabalho do que no lar. Restaurantes, retiros, workshops. Só somos caseiros se quisermos.
O titulo parece, de certo modo, colocar-nos numa quase-utopia.

Um terceto e um dístico de métrica muito curta.

A primeira estrofe lê-se dum fôlego só.
Literalmente a leitura dos lábios é feita quando há algum tipo de incapacidade de audição. Ou não. Ou apenas porque tem-se a facilidade de entender o que o outro diz, sem o ouvir.
Mas o sujeito poético fá-lo dum modo assaz especial, na própria boca. Como se se tratasse de um beijo, ou de reanimação, respiração boca-a-boca.
A tradução, tentada, é feita, mas em vez de usar a visão para o fazer, quer-se usar o (con)tacto.

A segunda estrofe é um dístico.
Métrica curta, também.
O sujeito poético define o objectivo dessa leitura.
Conhecer algum tipo de saber. Ou de sabor.
Como falamos de lábios e de bocas, a cavidade oral está presente nos versos. E a voz associada a essa oralidade.
A voz, que é o que lhe interessa saber. E o que ela diz.
Mas pode também interessar outros sabores, como o hálito, dos dentes, da língua...
Esperamos todos, os que leram o poema, que se venha a saber a mensagem.

Resta-me referir que os versos com poucas sílabas, parecem-me trazer aos leitores uma leitura mais súbita e emotiva.
Isso é notória do primeiro para o segundo verso, nas duas estrofes, por exemplo.

Consigo notar algum erotismo, impossível não o fazer.

Consigo entender a curiosidade.
Consigo ler a intimidade, que se encontra nas coisas domésticas.


Curiosidades domésticas


Quero ler
o que dizem os teus lábios
na minha boca

E descobrir
a que sabe a tua voz

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Criado em: Hoje 14:45:00
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