Comentário a "Palavra r" de Esférico

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6/11/2007 15:11
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O R enquanto letra, é uma das mais usadas, ou usadas mais frequentemente. Entra em todos os verbos no infinitivo. Nas acções.
Se o objecto deste feito fosse a letra enquanto palavra, seria mas difícil a sua aceitação, pois falta vogais para lhe dar sentido, contudo, ao nível fonético iria-se safar, pois a letra lê-se Erre.
E aí seria do verbo (outra vez) errar, que para mim tem conotações giríssimas, como o fazer o oposto do acertar; ou vadiar.
No imperativo.

Mas contudo, se usarmos o título unindo ambos os componente, temos outro verbo (e daí o R poder ser importante) que é o "palavrar".
Infrequente.
Contudo, pode-se definir por fazer palavras, ou seja, por pôr palavras. Uma forma simplificada de escrever.

Assim que se vai lendo o corpo do texto, temos um elogio à escrita, numa sua expressão feita de forma exemplar.
A primeira frase é feita na negativa. Como se fosse o tom pretendido.
O que essa frase nos diz, é que há algo de tumultuoso, em pegar na pena, ou no teclado, e criar. Nem que seja um recado na porta de uma loja: volto já.
Esse recado envolve movimento, quer no trabalho feito a escrever, a tornar a caligrafia legível, a gastar a folha da impressora (e tinta), quer na mensagem que é transmitida, isto é, desloquei-me para um certo ponto e voltarei a deslocar-me para este, onde estive.
O tumulto pode ter uma ligação umbilical ao espanto, ao momento exacto da inspiração, e à violência com que nos transtorna, e à expressão, ou tradução desse espanto.
O parágrafo que se segue, tem duas palavras em maiúscula que me apetece salientar: Escrita (a arte de escrever) e Alma. A segunda tem uma forma metafísica que já neguei, enquanto mais jovem, como o Éter, que o meu lado lado prático tem dificuldade em compreender. O meu lado metafórico tem várias definições, mas é mais ou menos como o amor, parece-me um pouco piegas e forçado.
Gostei, muito da expressão "...branco de sítio nenhum..." como superfície onde começa a ideia, a frase, o verso, o pensamento...
Por momentos, penso que aprendemos a S er, pensando. Imitando também (e observando, claro) os Outros.
No parágrafo que se segue, fiquei meio parado no anagrama conseguido entre "...seiva..." e "...veias..." e pergunto-me se terá sido propositado.
Na frase "...É lava incandescente em busca de um mar-porto..." tenho sempre tendência a ter a imagem da matéria vulcânica e o verbo lavar. Creio que há também uma função purificadora da escrita para quem escreve, e talvez, com alguma sorte para todos, para quem lê.

Apesar do tom negativo com que começa, o elogio ao acto, é contínuo.
A mensagem é mais de revolução ou mudança, do que de caos.

Há também alusão a algum talento, ou dom, povoada por alguma sobrenaturalidade, que não gosto plenamente.
Mas que sabe bem ler, e há tendência a querer concordar.

A última frase di-lo tão bem...


Palavra r


Escrever não traz tranquilidade.
A Escrita é uma bola de neve encosta abaixo da Alma, arrancando pedras e ervas e aromas e que termina, repousando, estatelada no branco de sítio nenhum.
São gritos mudos de um não-Ser que assim aprende a S er-se, descobrindo quem são os demais.
Escrever é doçura aos olhos dos restantes depois de ter sido vulcão na Alma de alguém. Rasga veias e tendões, seiva e tensão nervosa feita letras, formas, contornos e curvas acentuadas.
Escrever é ser a Alma uma renda de cornucópias e de retorcidos vazios por onde entram os sorrisos e as almas desconhecidas…
É lava incandescente em busca de um mar-porto, recluso num Tempo perdido e passado.
Não escrever seria não ser nada disto e não ser muito mais também…

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Criado em: 26/6 19:02
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