Comentário a "correntes de mar...não prendem horizontes", de Adeuses |
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6/11/2007 15:11 Mensagens:
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O poema, na sua íntegra, estará legível após o comentário. Gosto do teu poema. A começar pelo título, que em si já é um poema. Extremamente curto, é certo, mas autossuficiente, muito ao estilo da MarySsantos ou da Alma Mater. “Correntes de mar… não prendem horizontes” Há correntes de vários tipos. Imageticamente colocas-nos com a corrente feita com elos metálicos devido ao verbo prender, num ambiente típico de terra e de metal. A terra, aliás, donde o metal das correntes é extraído. Mas o elemento água entra em força, porque a corrente é de mar, como podia ser dos rios ou de ar. Ao contrário da supracitada, esta corrente sugere movimento, vida e liberdade. Podemos então deduzir que correntes de mar libertam horizontes. Há ainda o detalhe, interessantíssimo, de também associarmos o mar ao horizonte. Então a ambiguidade e versatilidade da palavra corrente colocou-me um sorriso. Além do expresso soar a uma verdade universal ou a um aforismo. A primeira estrofe é muito boa. Um dístico que tem tudo para entrar no lamechas e no lugar comum, mas que foge porque é a primeira ideia a seguir àquele bendito título. Afinal a corrente tinha um aloquete. As três voltas, simbolicamente tem várias fontes. Desde a trindade à assunção de certas “correntes”, como sendo o número da perfeição. Pode ser apenas a forma como a maioria das pessoas tranca a própria casa, em segurança. Começa a prece “… mas por amor…” aqui não sei se não faltou o “de deus” propositadamente, ou se é “devido ao amor”. Mas até a dupla interpretação me agrada. Pessoalmente, não gosto da palavra amor, mas para os devidos efeitos, convenceu-me. “… na janela virada a sul…” é uma metáfora bem conseguida, porque é a janela que tem a luz do sol com mais duração, sendo nesse caso uma alusão ao afastamento das trevas, do mal, do desamor. “…a esperança que o vento norte me empurre…” tem algo de triste, porque coloca do lado da natureza e dos elementos exteriores ao sujeito poético a possibilidade dum desejo notório. Um milagre. A promessa da última estrofe fecha o poema com chave de ouro. correntes de mar ...não prendem horizontes trancaste o coração com três voltas de chave mas por amor não coloques grades na janela virada para sul tenho ainda a esperança que o vento norte me empurre vou chegar … seja como mar gigante banhando teus calcanhares ou a simples brisa que acorda o olhar [ sabendo que a brisa não passa de uma lágrima impossível de chorar ] Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=341496 © Luso-Poemas
Criado em: 13/4 12:38
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Re: Comentário a "correntes de mar...não prendem horizontes", de Adeuses |
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Membro de honra
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24/12/2006 19:19 De Montemor-o-Novo
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Uma análise que deve ser feita tendo em conta dois caminhos, este que aqui o Beça nos deixa, menos romântico, e o que nos dá o ponto de vista do marinheiro.
"correntes de mar ...não prendem horizontes" As correntes de mar, não as atendendo por metálicas (aí soam-me a grilhetas, prisões) mas por liberdade, são um complemento ao vento ou ao desfraldar das velas, permitem-nos zarpar pelo imaginário do autor e, paralelamente, do leitor. Na minha modesta opinião "banhando teus calcanhares" está a mais. Os horizontes têm um múltiplo significado, mais por serem plurais, como os caminhos que a eles nos levam. O horizonte a que todos chegamos, o finito, é a morte. Há outros que serão sempre inalcançáveis, mas que nos garantem razões para vivermos e são esses que nos permitem derrubar obstáculos e alcançar certos objectivos. Os impossíveis existem para ser tentados, estão lá, como tais horizontes, para que os desmistifiquemos, são degraus.
Criado em: 13/4 15:43
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