Comentário a "correntes de mar...não prendem horizontes", de Adeuses

Membro desde:
6/11/2007 15:11
Mensagens: 2238
Este comentário também se encontrará disponível no perfil do utilizador na caixa de comentários do poema.
O poema, na sua íntegra, estará legível após o comentário.

Gosto do teu poema.
A começar pelo título, que em si já é um poema.
Extremamente curto, é certo, mas autossuficiente, muito ao estilo da MarySsantos ou da Alma Mater.

“Correntes de mar…
não prendem horizontes”

Há correntes de vários tipos.
Imageticamente colocas-nos com a corrente feita com elos metálicos devido ao verbo prender, num ambiente típico de terra e de metal. A terra, aliás, donde o metal das correntes é extraído.
Mas o elemento água entra em força, porque a corrente é de mar, como podia ser dos rios ou de ar.
Ao contrário da supracitada, esta corrente sugere movimento, vida e liberdade.
Podemos então deduzir que correntes de mar libertam horizontes.

Há ainda o detalhe, interessantíssimo, de também associarmos o mar ao horizonte.
Então a ambiguidade e versatilidade da palavra corrente colocou-me um sorriso.
Além do expresso soar a uma verdade universal ou a um aforismo.

A primeira estrofe é muito boa. Um dístico que tem tudo para entrar no lamechas e no lugar comum, mas que foge porque é a primeira ideia a seguir àquele bendito título.
Afinal a corrente tinha um aloquete.
As três voltas, simbolicamente tem várias fontes. Desde a trindade à assunção de certas “correntes”, como sendo o número da perfeição. Pode ser apenas a forma como a maioria das pessoas tranca a própria casa, em segurança.

Começa a prece
“… mas por amor…” aqui não sei se não faltou o “de deus” propositadamente, ou se é “devido ao amor”.
Mas até a dupla interpretação me agrada.
Pessoalmente, não gosto da palavra amor, mas para os devidos efeitos, convenceu-me.
“… na janela virada a sul…” é uma metáfora bem conseguida, porque é a janela que tem a luz do sol com mais duração, sendo nesse caso uma alusão ao afastamento das trevas, do mal, do desamor.

“…a esperança
que o vento norte
me empurre…”
tem algo de triste, porque coloca do lado da natureza e dos elementos exteriores ao sujeito poético a possibilidade dum desejo notório. Um milagre.

A promessa da última estrofe fecha o poema com chave de ouro.


correntes de mar ...não prendem horizontes


trancaste o coração
com três voltas de chave

mas por amor
não coloques grades
na janela virada para sul
tenho ainda a esperança
que o vento norte
me empurre

vou chegar …
seja como mar gigante banhando teus calcanhares ou a simples brisa que acorda o olhar [ sabendo que a brisa não passa de uma lágrima impossível de chorar ]

Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=341496 © Luso-Poemas

Criado em: 13/4 12:38
Transferir o post para outras aplicações Transferir


Re: Comentário a "correntes de mar...não prendem horizontes", de Adeuses
Membro de honra
Membro desde:
24/12/2006 19:19
De Montemor-o-Novo
Mensagens: 3760
Uma análise que deve ser feita tendo em conta dois caminhos, este que aqui o Beça nos deixa, menos romântico, e o que nos dá o ponto de vista do marinheiro.

"correntes de mar ...não prendem horizontes"

As correntes de mar, não as atendendo por metálicas (aí soam-me a grilhetas, prisões) mas por liberdade, são um complemento ao vento ou ao desfraldar das velas, permitem-nos zarpar pelo imaginário do autor e, paralelamente, do leitor.

Na minha modesta opinião "banhando teus calcanhares" está a mais.

Os horizontes têm um múltiplo significado, mais por serem plurais, como os caminhos que a eles nos levam. O horizonte a que todos chegamos, o finito, é a morte. Há outros que serão sempre inalcançáveis, mas que nos garantem razões para vivermos e são esses que nos permitem derrubar obstáculos e alcançar certos objectivos. Os impossíveis existem para ser tentados, estão lá, como tais horizontes, para que os desmistifiquemos, são degraus.

Criado em: 13/4 15:43
_________________
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma
Transferir o post para outras aplicações Transferir







Links patrocinados