Comentário a "Jazz" de Beatrix

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Clarinete.
É o que me apetece dizer, ou antes, sugerir, ao sujeito poético.

O Jazz enquanto género musical faz-me lembrar um pouco a poesia. Nunca está na moda, toda o\a gente conhece, e os seus amantes adoram-no\a.
A outra coisa que imediatamente me faz lembrar é o improviso.
Haverá improviso neste poema?

Estruturalmente tem simetria quanto baste. Varia um pouco na métrica e no número de versos em duas estrofes, mas já vi variação maior, noutros desta autora.
A constante que verifico é o arrojo, na linguagem e na originalidade.

Voltando ao improviso, noto-o mais de estrofe para estrofe na mudança de referência e personagens.
O sujeito poético está na primeira pessoa, mas a universalidade encontrada em cada verso, torna a composição também complexa.
A ironia no "...comentarista de profissão..." que podemos encontrar no segundo verso da primeira estrofe podemos encontrar no "...paciente em cura..." no quarto da segunda.

Aliás, gostaria de salientar a segunda estrofe como recurso a génio. Acho-a magnífica.
"...Decifrei o código matemático da chuva
Já sei como sintetizar o céu..."
Acho este dístico muito bem engendrado. Roçam ambos os versos o impossível, mas exequível num futuro longínquo.. Entre o "...decifrei..." e o "...já sei como..." não há como distingui-los além da rima a meio verso que constituem. Acho ambos os versos tão poéticos...
um dia vou sintetizar o céu também...
Aliterações no segundo verso em SS; o aforismo, em "...o presente é um paciente em cura..."; uma "...Laurinha..." desconhecida que entra num diálogo apenas para fazer ligação à estrofe seguinte, em que entram "...Os jovens...", o diminutivo não é inocente.
"...Os jovens..." que tanta inveja fazem, apenas por serem isso.

O terceto final também tem a sua magia.
"...Eu decidi o verão dos livros..." é uma metáfora bem construída. Quem é capaz de comandar o rumo dos acontecimentos, e a própria história, é de louvar.

Em relação ao desejo final que se lê no derradeiro verso, eu escolhi o clarinete porque tem uma sonoridade menos madura do que o saxofone ( que também aprecio), mas faz uns agudos quase desafinados belíssimos.

Mas jazz também é orquestra. Composição. Rigor.

Favoritei este poema à primeira leitura.

Obrigado, por mais um tão, tão bom.


Jazz


Escrevo distante do ritmo
Do comentarista de profissão
O vento levou-me a memória e só restou a história


Decifrei o código matemático da chuva
Já sei como sintetizar o céu
Vês, Laurinha, o presente é só
Um paciente em cura


Os jovens são, de facto, jovens
E eu quero esse teu dom demonstrado ontem
Mesmo sabendo que ontem já passou


A árvore daqui inclinada para o chão
Genuflexão possível
Ou quer beijar a erva abandonada


Eu decidi o verão dos livros
Deixei cartas nas campas
Mas fui ao funeral


Quem me dera ter nome de instrumento musical!

Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=377209 © Luso-Poemas

Criado em: 20/3 19:23
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Re: Comentário a "Jazz" de Beatrix / R. Beça
Da casa!
Membro desde:
23/5/2024 2:48
Mensagens: 483
.
Olá, Rogério.

Deixas-me um pouco sem palavras. Responder-te seria comentar um poema meu, quase. Assim sendo, não vou fazê-lo dessa forma.

Antes, agradecer-te a atenção com que leste o meu texto e a dedicação na escrita do Comentário no Espaço Crítico.

Clarinete parece-me bem, para nome.

Bom fim de semana!

Ab
Beatrix


Criado em: Ontem 16:53:25
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