Re: Comentário a "Conversa que ficou" de ruacuzuaco |
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6/11/2007 15:11 Mensagens:
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só porque me apetece que se releia o texto e o autor.
Criado em: 5/1 18:45
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Muito Participativo
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Criado em: 4/1 19:49
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Re: Comentário a Ele e ela (redux) de beijadordeflores |
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Administrador
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15/2/2007 12:46 De Porto
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A sério??!!
Criado em: 1/1 21:00
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" An ye harm none, do what ye will " |
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Comentário a Ele e ela (redux) de beijadordeflores |
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6/11/2007 15:11 Mensagens:
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Este comentário também se encontrará disponível no perfil do utilizador na caixa de comentários do poema.
O poema, na sua íntegra, estará legível após o comentário. As relações e as ralações. Parecem coisas diferentes. Aqui, neste poema, parecem quase sinónimos. É um tema universal. Há algo de interessante nele. Na minha leitura, apenas conseguimos definir o género do sujeito poético perto do fim. Ou um sujeito poético, sequer. E esta indefinição, tão longa (para lá do meio), torna o corpo do texto ainda mais universal. O título dá uma dica. Insinua. “Ele e ela (redux)” coloca duas personagens, em que existe uma ordem. O masculino vem em primeiro e o feminino depois. Assim sendo, iniciando a frase que é, o inicial está escrito em maiúscula, outra diferenciação. Mas pode ser o caso de haver uma perversão da intenção e o sujeito poético estar em segundo lugar, e propositadamente, no fim. O (redux) para mim é chinês, ou talvez latim. Faz lembrar redução. Mas, ainda antes de ler o poema, podemos nos interrogar: redução de quê? Do título, do “Ele..”, do ”...ela...”, dos dois? De nenhum e falarmos da redução isoladamente? O “...e...” dá a ideia de união. Ou não. Depois, temos que nos debater com os versos. São 12 estrofes geralmente curtas, entre dísticos e tercetos, de métrica variável (desde 5 a 15 sílabas métricas). Parece-me, por isso, não corresponder a algum de forma pré-definido. Sem rima, mas com ritmo. Na primeira estrofe, o terceto coloca-nos no primeiro verso com a posição da relação marcada. Não é (aparentemente) um poema de paixão, nem de enamoramento (o que eu chamo de amorzinho, ou, de amor, sequer). Mas temos logo a ideia de que houve. Em algum tipo de passado. “Fizera anos que nada lhe dizia...” Este verso pode remeter-nos ao silêncio, ou, então, em qualquer dos seres, indiferença. Como quando dizemos, “aquela pessoa não me diz nada”, que nos é indiferente, ou incompatível. Apesar de tudo, o silêncio parece mais cruel. Normal na indiferença, mas anormal no amor, ou na amizade, ou numa relação próxima. “...nem um bom dia nem um aceno de pena...” O segundo e terceiro versos, dão exemplos do tipo de indiferença e silêncio. Um zero absoluto. De quem para quem, é ainda um mistério, embora neste caso deva ser dinâmico, pois é fácil de prever que se um não começa, a outra também não o faz. Engraço com a “...pena...” no terceiro, porque fico na dúvida se se trata da piedade, ou do conhecido instrumento de escrita. No primeiro caso, o “...aceno...” é um gesto feito com a mão, no segundo é um, mais complexo, tipo de texto. O “...bom dia...” não é desgraçado, pois pode ser da manhã, ou o mais alargado dia, de 24 horas... Na segunda estrofe, mantém-se o silêncio, mas dito duma forma mais clara, dividido pelos dois a separação começa a ter um teor mais físico, porque, “...seguiam caminhos diferentes...” a isso obriga. Os “...silêncios distintos...” têm um travo muito amargo. Pois nem o silêncio é partilhado. Um poema decadente, a descer. A terceira estrofe diz assim: “...Comiam à sombra imaginária um do outro, Pensavam no mar, Havia a posição dúbia de um amor que pode ter existido...” Um verso, a meio desta estrofe, inapropriado. Mantém-se o tom de distância, porque uma “...sombra...” não é o mesmo do que o seu objecto, ainda que lhe pertença, além disso a sobra não é dum existente, mas imaginário, pertencendo ao mundo da fantasia. Ou ela é uma sombra que se imagina. Comer “...à sombra...” é um símbolo de prazer e conforto. Se ela for imaginária, o conforto passa a desconforto, além de mostrar outro desconforto: o da loucura, da psicose, da alucinação. Desconforto partilhado no “...um do outro...”. O que é uma “...posição dúbia...”? Será indecisa? Será falsa? O verbo “...havia...” no pretérito imperfeito, também não ajuda. Friso o imperfeito. Mas o verso termina com “...um amor que pode ter existido...”. À falta de ter a certeza de ser do amor de que se fala (escreve), ele aparece escrito neste verso, com todas as letras. Não há como lhe fugir. Sendo que, o verso do meio é inapropriado porque, é o único que não tem um sentido negativo. Um elemento neutro. A não ser que sejamos extremamente rebuscados e transformemos o “...pensavam no mar...” em algo quase homófono a “...pensavam n'omar” e omar seja amar. A quarta, começa com o sujeito poético mais evidente, supracitado devido ao título. É um dístico que tem duas imagens muito fortes. Em primeiro ligar destaco o verbo “...Sobrava...” em letra grande. Há o Brava, e o só. So-brava. “...Sobrava...” é o que não se consome, o que está a mais e se deita fora. E ter a consciência disso e dar-lhe uma letra capital e de destaque, é de reparar. Mas o "...pacote de desprezo...", quantificando duma forma quase matemática e ao mesmo tempo indefinida, pacote; um sentimento, o desprezo. Nem muito nem pouco, nem grande nem pequeno. Um pacote. Que tamanho tem um pacote? Que tamanho não tem? Realmente “...talvez tivesse de ser mesmo assim...”. Que conformismo... A “..chuva...” que vem na quinta e final estrofe, primeiro verso, é um clássico dos símbolos de tristeza e melancolia. Mas o que talvez intrigue mais em todo o poema é o que surge no último verso. “...tinham percepções e sentimentos de cores opostas...” porque a percepção da chuva, feita dessa forma, tem o condão de total desadequação. Há uma desordem total no sujeito poético. Nem "...Ele..." nem "...ela..." têm algum tipo de predominância. Acho que o poema é a redução a nada. Até a redução em “(redux)” é evidente. beijadordeflores é um utilizador que vale a pena ler. É raro não fazer um gosto e muito difícil, para mim, não favoritar quase cada publicação que faz. Obrigado pela leitura. Ele e ela (redux) Fizera anos que nada lhe dizia, Nem um bom dia, Nem um aceno de pena,... Seguiam caminhos diferentes, Com silêncios distintos,.... Comiam à sombra imaginária um do outro, Pensavam no mar, Havia a posição dúbia de um amor que pode ter existido,.... Mas dele Sobrava um pacote de desprezo, E talvez tivesse de ser assim,.... Até pela chuva tinham, Percepções e sentimentos de cores opostas Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=375958 © Luso-Poemas
Criado em: 31/12 19:14
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Re: Comentário a "Sem efeito", de gillesdeferre |
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Da casa!
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14/6/2024 14:54 Mensagens:
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Repito: as suas análises são um privilégio.
É de facto um não poema, que se pretende anular a cada som. Escrever e logo apagar, para não cair no esquecimento. O que não existe não é esquecido. Assim o amor. Abraço Deste seu admirador Gillesdeferre
Criado em: 26/12 21:34
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Comentário a "Sem efeito", de gillesdeferre |
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6/11/2007 15:11 Mensagens:
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Este comentário também se encontrará disponível no perfil do utilizador na caixa de comentários do poema.
O poema, na sua íntegra, estará legível após o comentário. Parto para este comentário com a impressão de que é para não se fazer. É o que de certo modo nos diz o título, que intriga desde o primeiro instante. No instante a seguir, tenho, novamente, a impressão de não ter a certeza se devo começar a leitura do princípio para o fim, ou vice-versa. Ou do meio em qualquer das direções. Desde então apercebo-me que há qualidade, pois não há superioridade nem inferioridade em qualquer dos versos. Arrisco-me a dizer, em qualquer das palavras. Uma estrofe de oito versos, acho que dá para classificá-lo como uma esparsa, sem rima. "Sem efeito". O título tem uma aliteração de Es, e é uma negativa que é uma anulação de quase tudo. Apenas não se anulará, se o corpo do texto for, ele mesmo, uma nulidade. Como na gramática se diz, duma dupla negação ser uma afirmação. Uma anulação de quê, neste caso? Na presença do “desamor”. É elegante, a inversa do amor usar a palavra como sufixo. Por outro lado, há a anulação duma palavra que pudesse ser sinónimo dessa inversa. Falamos do ódio? Da indiferença? Da amizade? Da paixão? Este poema conquista-nos cedo. Logo no primeiro verso. O mistério, que suscita a “...bruma...” (qualquer uma), vem adjetivado com um superlativo imponente: que território é maior do que um império? Depois o sujeito poético apresenta um capricho, no quinto. “...escrevo à condição...” mas, como o escrito está feito, e estamos a ler, a condição deve ter sido satisfeita. Ou não? A dita bruma, depois, como qualquer névoa que se digne, ainda mais com tal tamanho, "...ocupou todo o..." "...ser..." do sujeito poético, toda a existência, toda a vontade, todas as posses, todos os sentires, todos os sentimentos. Mas destes, são destacados dois impedimentos, em versos distintos. No primeiro caso “...o coração de ver...” e no segundo “...os olhos de amar...” havendo um génio, comedido, da inversão dos papéis no órgão em relação à sua função. Embora o coração amar seja discutível, para os devidos efeitos (apesar do “Sem efeito” do título), há um teor romântico e poético em que é aceitável, ou ainda, exigido. Voltando ao capricho, do que se trata? Da vontade do sujeito poético em ver o escrito apagado, no caso do desamor ser o mote. Mas o brilhantismo continua, simplificando e complicando o que acabei de definir numa frase. No uso do “...gastas...” e “...consumidas...” na mesma ideia, tendo sentidos simétricos. No “...apagarem as palavras...” colocando outra(s) personagem(ns), que não o sujeito poético, na narrativa. Insinuando o uso de ferramentas nessa execução (que apagador será?). No imediatismo do “...logo que...”. Do “...desamor” já falei. Resta-me lembrar que o título passaria a ser "Com efeito" com a substituição da última palavra, de "...desamor", pelo amor. “Sem efeito”, no fundo, é um não-poema que circula sobre si mesmo e deixa-nos numa, mais do que agradável, confusão. Sem efeito conquistado pela bruma imperial que toda me ocupou impedindo meu coração de ver e meus olhos de amar escrevo à condição de se apagarem as palavras logo que gastas consumidas no desamor Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=374267 © Luso-Poemas
Criado em: 24/12 12:12
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Re: Comentário a "Curiosidades domésticas", de Beatrix |
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24/12/2006 19:19 De Montemor-o-Novo
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Se fosse uma carta de Tarot, diria-a "Os Amantes".
Os segredos que se trocam entre lábios por meio de ternos ósculos, a doçura violenta com que se discute o amor, boca a boca quase corpo a corpo. Este pequeno pedaço de grande poema é outro livro, uma história incompleta que se desenrola numa leitura lenta e demorada, soletrada e entranhada na mente leitora.
Criado em: 23/12 14:19
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A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma |
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Comentário a "Curiosidades domésticas", de Beatrix |
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6/11/2007 15:11 Mensagens:
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Este comentário também se encontrará disponível no perfil do utilizador na caixa de comentários do poema.
O poema, na sua íntegra, estará legível após o comentário. Quanto mais curtos melhores, deixem-me pensar. Primeiro, devido ao título. Ou seja, na palavra “...domésticas”, que me leva sempre a associar a alguma monotonia. Quase o inverso de curiosidade. O que é de casa, muitas vezes se torna previsível. Quase podem adivinhar o que pensamos, como reagimos. As “Curiosidades...” são, um pouco, a ausência dessa previsibilidade. Como se o título se contradissesse. Sobre este ponto de vista. Ou o poema pretende mesmo debater essa ideia feita, e se se considere que é necessário para o ambiente doméstico cultivar-se a curiosidade. Que a curiosidade é algo próprio do indivíduo, que todos devemos procurar. Ainda mais dentro da casa de cada um. O ser-se doméstico é um desafio, embora seja tradicional e o modo mais usado ainda no mundo. Os divórcios têm, por exemplo, vindo a ser cada vez mais comuns. Existem muitos aliciantes para ser-se menos doméstico. Passamos mais tempo no trabalho e a caminho do trabalho do que no lar. Restaurantes, retiros, workshops. Só somos caseiros se quisermos. O titulo parece, de certo modo, colocar-nos numa quase-utopia. Um terceto e um dístico de métrica muito curta. A primeira estrofe lê-se dum fôlego só. Literalmente a leitura dos lábios é feita quando há algum tipo de incapacidade de audição. Ou não. Ou apenas porque tem-se a facilidade de entender o que o outro diz, sem o ouvir. Mas o sujeito poético fá-lo dum modo assaz especial, na própria boca. Como se se tratasse de um beijo, ou de reanimação, respiração boca-a-boca. A tradução, tentada, é feita, mas em vez de usar a visão para o fazer, quer-se usar o (con)tacto. A segunda estrofe é um dístico. Métrica curta, também. O sujeito poético define o objectivo dessa leitura. Conhecer algum tipo de saber. Ou de sabor. Como falamos de lábios e de bocas, a cavidade oral está presente nos versos. E a voz associada a essa oralidade. A voz, que é o que lhe interessa saber. E o que ela diz. Mas pode também interessar outros sabores, como o hálito, dos dentes, da língua... Esperamos todos, os que leram o poema, que se venha a saber a mensagem. Resta-me referir que os versos com poucas sílabas, parecem-me trazer aos leitores uma leitura mais súbita e emotiva. Isso é notório do primeiro para o segundo verso, nas duas estrofes, por exemplo. Consigo notar algum erotismo, impossível não o fazer. Consigo entender a curiosidade. Consigo ler a intimidade, que se encontra nas coisas domésticas. Curiosidades domésticas Quero ler o que dizem os teus lábios na minha boca E descobrir a que sabe a tua voz Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=375867 © Luso-Poemas
Criado em: 22/12 14:45
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Re: Comentário a "de cinza a rubro", de Rogério Beça |
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6/11/2007 15:11 Mensagens:
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Legião dos Tristes
[dos cativos sem cativeiro] Não há tristeza maior do que esta Fazer do ser triste uma festa... (Sem autoria) - Não há Tristeza maior do que esta Fazer do ser triste uma festa (Também sem Autor)
Criado em: 12/12 12:14
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Sou fiel ao ardor, amo esta espécie de verão que de longe me vem morrer às mãos e juro que ao fazer da palavra morada do silêncio não há outra razão. Eugénio de Andrade Saibam que agradeço todos os comentários. Por regra, não respondo. |
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Comentário a "de cinza a rubro", de Rogério Beça |
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Da casa!
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23/5/2024 2:48 Mensagens:
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“de cinza a rubro”, de Rogério Beça – Link para o texto original
“de cinza a rubro”, de Rogério Beça de rubro a cinza Alegrem-se os incolores, os puros vitrais, cristais, os autores Tristes os de carne-viva, os azulados, encarnados, e a cativa E vivam os indiferentes ANÁLISE Nº 2 Nesta análise, vejamos cada verso: de rubro a cinza – um dos meus versos preferidos. Podemos ver este cinza como uma cor entre o preto e o branco, ou os resíduos de algo queimado, finado, acabado. Ao contrário, o rubro é algo vermelho-vivo como o sangue, o fogo. Ardente. Quer num caso, quer no outro podemos estar a falar só de cores ou só de símbolos ou de ambos. Escolhamos ambos. Portanto, o sujeito poético começa por nos dizer que vai do incipiente acabado em direção ao ardente, que queima e que vive. Ao cúmulo da excitação. No título, atenção! Porque no poema, e neste primeiro verso de que falo, é ao contrário. Quererá que andemos em círculos? Ou para a frente e para trás? Alegrem-se os incolores, os puros vitrais, cristais, os autores Autores incolores não se veem. Alegrem-se, diz-nos. A ausência de cor é motivo de alegria, e os que criam são assim ou, se não são, deviam. A cor que deve alegrar, juntamente com aquela que não existe, é a que se apresenta como mistura heterogénea: vitrais puros – onde conseguimos vislumbrar a cor e a sua beleza nos desenhos e figuras que vemos; cristais, onde a cor assume várias tonalidades e tem poderes a ela associados, significados atribuídos. A cor não só como atributo, mas como fazendo parte do objeto, característica sua. Assim, a alegria deverá ser também. Tristes os de carne-viva, os azulados, encarnados, e a cativa A seguir à alegria, a tristeza. Agora com algumas cores básicas nomeadas. Acima dissemos que iríamos em direção ao vermelho-vivo, ao ardente. Mas não parece ser o caso pois se estamos face a uma tristeza de carne-viva. E o rubro começa pelos de carne-viva (Pedro Almodóvar tem um filme com este nome: “Em Carne-Viva”). Aqueles que têm uma forte sensualidade, a parte corpórea do ser humano. Vermelha. Como os encarnados, que devemos ser todos nós incluindo os primeiros, os rubros. Não é o nosso sangue desta cor? No dicionário há vários significados, com distintas diferenças. Escolhemos estes porque nos parece ser o que o autor pretendia. Os azulados serão os de sangue real ou da nobreza; ou então os mortos por venenos tão letais como a Atropa belladonna. Naturalmente, que estes serão tristes. Mas e os de carne-viva? E os encarnados? Concluimos daqui que todos somos tristes segundo o sujeito poético, e de nada temos que nos alegrar. Porque vivemos a vida, temos sangue nas nossas veias vermelhas, a pulsar, a contar o tempo que passa, a contar o tempo que falta... E a cativa? É quem? Uma escrava em cativeiro? Uma mulher embaraçada? Uma cor que se desbota facilmente! Sim, é triste: ser uma cor que “desmaia”. E vivam os indiferentes São estes os que melhor vivem. Serão? Os que não se ralam com nada, que não se preocupam, que vivem olhando para o lado. De que cor serão? Eu aposto no cinza do 1º verso. E é assim que deve acabar, no cinza, nos indiferentes. Afinal, vivam os cinzas! Tenho para mim que quando não se vive intensamente, não se faz tanto doente, não há rubro suficiente... Ótimo poema, Rogério. Custa um pouco dissecar até ao osso um poema de que gostei tanto. Espero tê-lo feito sem afetar, em nada, o poema. De todo o modo, é uma leitura possível e um exercício interessante. Obrigada. Beatrix
Criado em: 11/12 18:01
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I got that feeling That bad feeling that you don't know (Massive Attack) |
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