Augusto dos Anjos : O Morcego
em 17/10/2008 18:00:00 (25460 leituras)
Augusto dos Anjos



Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede..."
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!



**************************************************


Imprimir este poema Enviar este poema a um amigo Salvar este poema como PDF
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 17/10/2008 19:03  Atualizado: 17/10/2008 19:03
 Re: O Morcego...p/todos
É fantástico acompanhar o raciocínio de Augusto dos Anjos quando ele compara o morcego com a consciência humana....

Até mais ler...

Enviado por Tópico
nynerock
Publicado: 29/07/2014 23:13  Atualizado: 29/07/2014 23:13
Participativo
Usuário desde: 28/07/2014
Localidade:
Mensagens: 28
 Re: O Morcego
Espetacular!!! Este morcego não poupa ninguém.

Links patrocinados

Visite também...