Poemas -> Sombrios : 

Bebe-se o vidro do vinho em taças de nada.

 
Embargados os gestos repousam agora
em adagas doridas
no sangue das memórias pelágicas.

Nuvens de caruncho engolem a montanha
em orgias de ventos.
A manhã librina e fria chora a demora
da noite incendiada, retesa-se aposta às costas
velhas da cadeira e engole a dor da incerteza
no agridoce toque dos lábios retalhados.

O ventre eclode aprisionado às Brumas de Avalon,
o Mundo nu palmilha a foz do rio.

As correntes rebentam-se da prisão das horas
simuladas em danças de luas cheias
se a neblina dá forma ao dia de ruas esquecidas.
Rasgam-se as entranhas dos sexos e dos seios
na destreza das mãos por acontecer.

Bebe-se o vidro do vinho em taças de nada.

Às águas são por fim a liberdade
da escolha a escorrer dos olhos de uma mulher.



MT.ATENÇÃO:CÓPIAS TOTAIS OU PARCIAIS EM BLOGS OU AFINS SÓ C/AUTORIZAÇÃO EXPRESSA

 
Autor
Mel de Carvalho
 
Texto
Data
Leituras
2462
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
5 pontos
5
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
flavio silver
Publicado: 22/10/2007 13:02  Atualizado: 22/10/2007 13:02
Colaborador
Usuário desde: 24/09/2007
Localidade: barcelos
Mensagens: 1001
 Re: Bebe-se o vidro do vinho em taças de nada.
a tua imagem poética é sempre favorável à imaginação. "gostar" dos teus poemas é uma palavra vaga para classificar, portanto, olha, envia-nos mais sensações como este poema que nos habitua a contemplar.

Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 22/10/2007 13:15  Atualizado: 22/10/2007 13:15
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: Bebe-se o vidro do vinho em taças de nada.
Querida amiga
Mais um dos teus poemas de tristeza.
De tanta dor ver espalhada, espelhada...
Que culmina com os teus olhos marejados
Das águas que te trazem o alívio da alma...

Beijo

Enviado por Tópico
Cathia
Publicado: 22/10/2007 14:38  Atualizado: 22/10/2007 14:38
Super Participativo
Usuário desde: 08/06/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 102
 Re: Bebe-se o vidro do vinho em taças de nada.
Adorei o poema...bjão muito grande

Enviado por Tópico
MariaSousa
Publicado: 22/10/2007 19:43  Atualizado: 22/10/2007 19:43
Membro de honra
Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa
Mensagens: 4047
 Re: Bebe-se o vidro do vinho em taças de nada.
Belo!

Bjs

Enviado por Tópico
juvepp
Publicado: 23/10/2007 17:32  Atualizado: 23/10/2007 17:32
Colaborador
Usuário desde: 13/04/2007
Localidade: Machico - Madeira
Mensagens: 547
 Re: Bebe-se o vidro do vinho em taças de nada.
Olá Mel,
No turbilhão e na fúria tempestiva com que "os olhos de uma mulher" Contemplam a falta de liberdade, surge um poema de metáforas, comparaçoes e imagens surrealistas. Bonitas por sinal. "Nuvens de carruncho engolem a montanha/Em orgias do vento". Se tomarmos o "carruncho das nuvens" como aqueles bichos que todo corroem, então teremos " a montanha" os sonhos, os ideais a serem engolidos, desfeitos, aprisionados por tais bichos, isto é, por questões insignificantes ou mesquinhas. Depois a "orgia dos ventos" tomando-se que o vento é espaço de liberdade, a força indomável da natureza conjuntamente com o sentido da palavra"orgia" como sendo prazer, então teremos o prazer de ser livre Que é o tema do teu poema. Beijinhos