Quanto cinismo tem nas palavras
besuntadas, assopradas, tão delicadas,
enfeitadas de preciosismo,
ditas àquele alguém,
que tu tanto gostas de o ver pelas costas
Quanto cinismo tem nas palavras
besuntadas, improvisadas, tão delicadas,
salpicadas de facciosismo,
emprestadas para alimentar o ego daquele ser,
que parece ser cego,
mas que no entanto enxerga bem.
Quanto cinismo tem impregnado o sorriso
besuntado, assoprado, tão delicado,
imanado, no momento preciso, por alguém que
estende a mão, a outrem, que mão não tem,
enquanto se presta a ajudá-lo a assinar o seu desterro,
pois, a sua presença não lhe convém
e assegura-lhe estar a fazê-lo, para o seu próprio bem
Quanto cinismo tem na alegria
besuntada, estimulada, tão delicada,
mostrada por aquele que bem acolhe, em sua casa,
um indesejado, para agrado lhe simular,
enquanto o coitado, nisso, vai-se deixando embalar
Quanto cinismo tem, naquele braço sobre o ombros
besuntado, empastado, tão delicado,
colocado nos daquele que se desgraça,
enquanto se o anima a afirmar-se sobre os escombros
Quanto cinismo tem, naquele "amem"
besuntado, improvisado, tão delicado,
ditado por aquele que diz
que, por ele, nada mais poder fazer
e carrega em suas mãos, esse poder
Quanto cinismo tem, naquele abraço de despedida,
besuntado, afrouxado, tão delicado,
dado à pessoa, que se diz ser sua tão querida
e o que mais se deseja, é vê-la ida
Quanto cinismo tem na lágrima
besuntada, amargurada, tão delicada,
derramada, por um verdadeiro nada,
porém, muito bem enfeitada de altruísmo
Quanto cinismo tem, naquele beijo,
besuntado, melado, tão delicado,
dado com o preciosismo, que convém,
a outrem
no momento, em que ele é falsamente idolatrado
apsferreira
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